segunda-feira, 12 de maio de 2014

Villaplane: de capitão a colaborador nazista

Alexandre Villaplane condensa em sua biografia fatos notórios, muitos deles atrelados à história da primeira metade do século XX. Nascido em 1905, na Argélia, então colônia do império francês, mudou-se com 16 anos para a casa dos tios na cidade de Sète, no litoral mediterrânico da França, onde logo se incorporou ao clube de futebol local.

Ainda jovem, depois de jogar algumas temporadas pelo clube, tendo atuado, inclusive, junto à equipe principal, Villaplane recebeu uma oferta de uma das equipes rivais, o Nîmes. Como o profissionalismo era ainda proibido – a justificativa era garantir a manutenção da essência e do espírito esportivo – muitos times usavam de outros artifícios para atrair e manter seus jogadores. As promessas de empregos com salários generosos atraíram muitos jogadores, e com Villaplane não foi diferente.

Foi em Nîmes que as primeiras menções em termos nacionais caracterizando-o como um jogador de talento, dono de um exímio passe e ótimo posicionamento, se fizeram notar. Durante este período, Alexandre Villaplane foi finalmente convocado para a seleção da França. Suas atuações e liderança lhe garantiram a faixa de capitão, posição que reforçou depois de trocar de clube em 1929, quando foi jogar pelo Racing Club de Paris.


Villaplane então capitão do Nîmes 



Como capitão, disputou a primeira partida da história da França em uma Copa do Mundo, em 1930, contra o México. Neste jogo ele teria dito algo que, para a posterioridade, se tornaria um lapso de seu heroísmo: “o dia mais feliz da minha vida”.

Quando o profissionalismo foi liberado em 1932, Villaplane trocou de equipe e passou a integrar os quadros do Antibes. O sucesso alcançado anos antes, no entanto, se desfez com as denúncias de manipulação de resultados, alimentado ainda mais com acusações diretas da imprensa de uma vida regressa associada às apostas, álcool e prostituição. Já não restara espaço para ele nos clubes de futebol da França.

Vinculado vez ou outra a crimes, Villaplane começou, depois de abandonar o futebol, a passar algumas temporadas na prisão. Porém, em uma de suas liberações, a França já não era mais a mesma. A invasão nazista ao país, a impossibilidade de reação e a instalação de um governo pró-Alemanha transformaram o contexto da região dominada. A República francesa definhava-se enquanto Hitler era fotografado perante a Torre Eiffel.

A resistência tentava fazer sua parte, mas apoiadores ao novo regime não faltavam. E Villaplane foi um deles. Egresso da prisão, o antigo capitão francês se integrou a um grupo militar, que funcionou como a Gestapo francesa.

Por meio desse grupo, imbuído de um poder autorregulado, a resistência nacionalista francesa era combatida, perseguida, torturada e morta. Provendo aos invasores nazistas com um poder local como apoio, o grupo se destacou pela truculência e crueldade com os opositores do novo regime. Villaplane foi condecorado como tenente da SS.

Com o auxílio dos Aliados, a resistência francesa conseguiu retomar o norte do país, desmontando os aparatos nazistas que haviam permanecido. Os membros da Gestapo francesa foram presos e sentenciados à morte. No dia 26 de dezembro de 1944, às 10 horas da manhã, Villaplane e seus companheiros foram julgados por alta traição, crimes de guerra, atos de barbárie e auxílio ao inimigo, foram fuzilados.

De herói e capitão da primeira Copa do Mundo, o jogador transformou-se num símbolo da decadência moral do ser humano, traição e desgraça. A trajetória e a tragédia de Villaplane marcam bem as possíveis memórias de um ídolo do futebol, suas atitudes são julgadas, mesmo fora de campo.

(Por Thiago Kater)

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