quinta-feira, 29 de maio de 2014

Morte de Marighella apaga clássico no Pacaembu


Carlos Marighella desde cedo foi um militante visceral, o que logo lhe causou logo aos 20 anos sua primeira passagem pela prisão por escrever um poema contrário aos poderes públicos do Estado da Bahia. 

Marighella foi assassinado no dia em que seu time goleou o Santos

 Permaneceu por 33 anos junto ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), pelo qual foi eleito deputado. Logo após o golpe militar, tornou-se um adepto da luta armada e foi um dos percursores do movimento de guerrilha urbana no Brasil.

Em razão da caçada feroz do regime às organizações ligadas ao sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, acabou assassinado pelas forças de segurança em 4 de novembro de 1969, numa emboscada armada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS-SP. Aos 58 anos, Marighella era o ‘inimigo número 1’ da ditadura e líder da Ação Nacional Libertadora (ANL).  

A versão oficial alega que o velho militante morreu ao ser baleado no banco traseiro de um fusca, ponto de um encontro com os freis dominicanos, que ajudavam sua organização, mas tinham caído nas mãos da repressão.
No entanto, décadas depois, o fotógrafo Sérgio Vital Tafner Jorge, da Revista Manchete, um dos profissionais a imortalizar o momento, revelou a farsa armada pelos militares. “Foi tudo uma farsa. Eu vi os policiais colocando o Marighella no banco de trás do carro”.

Morte do líder comunista e goleada corintiana dividiram espaço na capa do jornal
 
A queda de Marighella coincidiu com uma noite de clássico entre Corinthians e Santos no Pacaembu. Grande parte da imprensa, entre eles Tafner Jorge, aguardava o início da partida a fim de documentar imagens do embate, quando os alto falantes do estádio anunciaram: “Foi morto pela polícia o líder terrorista Carlos Marighella”. 

A notícia causou comoção nas arquibancadas, que urrava como se o maior rival tivesse aberto o placar. Muitos deles não sabiam que o líder da esquerda armada era corintiano.

Ao perceber a importância do evento, o fotógrafo e mais quatro profissionais se deslocaram ao local do tiroteio, próximo do estádio. Ao chegar foram recebidos com gritos de Fleury: “Não quero ouvir um clique! Todos encostados no muro, com as máquinas no chão!”. 

Naquele período, parecia insensatez desobedecê-lo. Entretanto, todos observaram que Marighella estava no banco da frente, com uma perna para dentro e outra para fora do automóvel. Quase não havia sangue em suas vestes.

Três policiais o colocaram na calçada, revistaram seus bolsos. Ao tentar recolocá-lo no banco de trás do fusca, foi preciso que um dos agentes entrasse e puxasse o corpo. 

A montagem da cena oficial durou cerca de 40 minutos. Só depois de toda a armação os fotógrafos foram autorizados a registrar a cena. 

Em meio àquela farsa, a bola continuava rolando no Pacaembu. O Santos de Pelé e companhia foi goleado por 4 a 1 pelo time de coração de Marighella. Mas, no dia seguinte, as manchetes dos jornais não estampam a glória alvinegra, mas a primeira grande derrota da luta armada, que perdia um de seus principais líderes para a sanha da ditadura. Os dias eram assim...

(Por Amanda Macedo)

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Para saber mais sobre o tema, leia "Marighella - o guerrilheiro que incendiou o mundo", de Mário Magalhães e assista ao documentário "Marighella", de Isa Grinspum Ferraz.







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