sexta-feira, 30 de maio de 2014

Copa da Argentina encobriu terrorismo de Estado

O Mundial de 1978, na Argentina, aconteceu sob o ápice do terrorismo de Estado na América Latina. Todo o Cone Sul vivia sob o domínio dos militares.  A ditadura instalada em março de 1976 assassinou e fez desaparecer mais de 30 mil argentinos e cidadãos de outras nacionalidades. Um deles foi o músico brasileiro Tenório Jr., que estava no país acompanhando a turnê de Vinicius de Moraes e Toquinho. Desapareceu no dia 18 de março, sequestrado por agentes que participavam da conspiração do golpe em marcha, que seria dado no dia 24. 

O ditador Jorge Videla comemora título da Argentina na Copa de 1978

No livro "Nuestro Vinicius – Vinicius de Moraes en el Río de la Plata" (Editorial Sudamericana), a autora Liana Wenner relata que ele foi executado com um tiro na Escuela de Mecánica de la Armada, onde mais de 5 mil pessoas foram assassinadas nos sete anos que durou a ditadura, no dia 27 de março. A história do assassinato de Tenório Jr. foi encoberta pela ditadura brasileira, apesar dos esforços de Vinicius para localizar o amigo.

No Brasil, a mídia tradicional preferiu se escandalizar com a desclassificação da Seleção Brasileira por causa do arranjo entre governos que teria feito o Peru entregar o jogo para a Argentina. Os donos da casa precisavam de uma diferença de quatro gols a favor para eliminar o Brasil e ir à final. Ganharam por 6 a 0. Por aqui, a seleção comandada pelo técnico Cláudio Coutinho, militar de patente capitão, ganhou status de campeã moral.

No mundo real, que as manchetes dos jornais não refletiam, a imoralidade que corria solta era a ordem para matar e sumir com os vestígios das vítimas. Se, no Brasil, o capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho – o Sérgio Macaco –, que comandava a tropa de elite Para-Sar, de salvamento, não aceitou a ordem do brigadeiro João Paulo Burnier de explodir a central de gás do Rio de Janeiro (Gasômetro) em 1968, o que mataria centenas de pessoas num atentado que seria atribuído aos comunistas, na Argentina a Aeronáutica foi peça fundamental no sumiço dos corpos dos presos políticos. De helicóptero, milhares foram atirados ao mar – já mortos ou ainda vivos, dopados.

Tudo isso aconteceu enquanto nos estádios argentinos o mundo fazia de conta que a disputa entre as nações se dava pela mediação de uma bola de futebol.

A história de Laura Estela Carlotto, estudante de história da Universidad de la Plata e militante da Juventud Peronista, resume a tragédia argentina. Sequestrada em novembro de 1977, gravida de três meses, foi mantida viva em um centro clandestino de repressão até o nascimento do bebê. A criança, um menino, segundo relato de ex-presas que sobreviveram, nasceu em 26 de junho de 1978, apenas dois dias após a Argentina vencer a Holanda por 3 a 1, em Buenos Aires, e sagrar-se campeã mundial pela primeira vez.

Estela Carlotto, líder das Abuelas de Plaza de Mayo

Estela Barnes Carlotto, professora e mãe de Laura, deixou a profissão para dedicar–se à busca da filha desaparecida e do neto, sequestrado pela ditadura. Ele foi um dos cerca de 500 bebês roubados de suas famílias.  O corpo da filha lhe foi entregue pelos militares dois meses depois, com a recomendação de que voltasse à sua rotina de aulas. Ela não obedeceu.

Ao lado de outros familiares, Estela criou a organização Abuelas de Plaza de Mayo. Com apoio de militantes dos direitos humanos e da luta pela memória, verdade e justiça, as avós criaram um banco de dados genéticos. Graças a ele, e a uma intensa campanha para busca dos filhos e netos entregues a outras famílias, conseguiram identificar, localizar e restituir a verdadeira identidade de 108 deles. Faltam 392. Um deles é Guido de Carlotto, filho de Laura, que queria que o filho tivesse o mesmo nome do avô.

A conquista do título não encobriu as atrocidades cometidas pelo regime do general Videla. Preso e condenado por genocídio, ele morreu na prisão em 2013.
  
(Por Milton Bellintani)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Morte de Marighella apaga clássico no Pacaembu


Carlos Marighella desde cedo foi um militante visceral, o que logo lhe causou logo aos 20 anos sua primeira passagem pela prisão por escrever um poema contrário aos poderes públicos do Estado da Bahia. 

Marighella foi assassinado no dia em que seu time goleou o Santos

 Permaneceu por 33 anos junto ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), pelo qual foi eleito deputado. Logo após o golpe militar, tornou-se um adepto da luta armada e foi um dos percursores do movimento de guerrilha urbana no Brasil.

Em razão da caçada feroz do regime às organizações ligadas ao sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, acabou assassinado pelas forças de segurança em 4 de novembro de 1969, numa emboscada armada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS-SP. Aos 58 anos, Marighella era o ‘inimigo número 1’ da ditadura e líder da Ação Nacional Libertadora (ANL).  

A versão oficial alega que o velho militante morreu ao ser baleado no banco traseiro de um fusca, ponto de um encontro com os freis dominicanos, que ajudavam sua organização, mas tinham caído nas mãos da repressão.
No entanto, décadas depois, o fotógrafo Sérgio Vital Tafner Jorge, da Revista Manchete, um dos profissionais a imortalizar o momento, revelou a farsa armada pelos militares. “Foi tudo uma farsa. Eu vi os policiais colocando o Marighella no banco de trás do carro”.

Morte do líder comunista e goleada corintiana dividiram espaço na capa do jornal
 
A queda de Marighella coincidiu com uma noite de clássico entre Corinthians e Santos no Pacaembu. Grande parte da imprensa, entre eles Tafner Jorge, aguardava o início da partida a fim de documentar imagens do embate, quando os alto falantes do estádio anunciaram: “Foi morto pela polícia o líder terrorista Carlos Marighella”. 

A notícia causou comoção nas arquibancadas, que urrava como se o maior rival tivesse aberto o placar. Muitos deles não sabiam que o líder da esquerda armada era corintiano.

Ao perceber a importância do evento, o fotógrafo e mais quatro profissionais se deslocaram ao local do tiroteio, próximo do estádio. Ao chegar foram recebidos com gritos de Fleury: “Não quero ouvir um clique! Todos encostados no muro, com as máquinas no chão!”. 

Naquele período, parecia insensatez desobedecê-lo. Entretanto, todos observaram que Marighella estava no banco da frente, com uma perna para dentro e outra para fora do automóvel. Quase não havia sangue em suas vestes.

Três policiais o colocaram na calçada, revistaram seus bolsos. Ao tentar recolocá-lo no banco de trás do fusca, foi preciso que um dos agentes entrasse e puxasse o corpo. 

A montagem da cena oficial durou cerca de 40 minutos. Só depois de toda a armação os fotógrafos foram autorizados a registrar a cena. 

Em meio àquela farsa, a bola continuava rolando no Pacaembu. O Santos de Pelé e companhia foi goleado por 4 a 1 pelo time de coração de Marighella. Mas, no dia seguinte, as manchetes dos jornais não estampam a glória alvinegra, mas a primeira grande derrota da luta armada, que perdia um de seus principais líderes para a sanha da ditadura. Os dias eram assim...

(Por Amanda Macedo)

***

Para saber mais sobre o tema, leia "Marighella - o guerrilheiro que incendiou o mundo", de Mário Magalhães e assista ao documentário "Marighella", de Isa Grinspum Ferraz.







quarta-feira, 28 de maio de 2014

Um rebelde em plena ditadura

Afonso Celso Garcia Reis, mais conhecido por Afonsinho, é um médico e ex-jogador de futebol, com passagens pelo XV de Jaú (onde foi revelado), Botafogo, Olaria, Vasco da Gama, Santos, Flamengo, América-MG e Fluminense. Jogava como meia-armador e se destacou principalmente no Botafogo, onde conquistou todos os títulos possíveis, 2 Cariocas, 1 Rio - São Paulo e 1 Brasileiro, sendo inclusive o capitão do time na conquista da Taça de Prata de 1968.

Afonsinho enfrentou cartolas e a ditadura

Apesar da habilidade e da técnica, já tendo conquistado a torcida do alvinegro carioca, Afonsinho passou para a história por outro motivo. Pouco antes de se transferir ao Botafogo, o Brasil sofreu um golpe que resultou no início da Ditadura brasileira. Assim, a partir de 1968, com a institucionalização do AI-5, o aparelho ditatorial estatal passou a reprimir e a monitorar a sociedade civil brasileira, iniciando uma época de auge da repressão da Ditadura.

Diversos artistas e jogadores brasileiros foram monitorados. Afonsinho foi um dos jogadores considerados subversivos pelos órgãos ditatoriais. O atleta tinha um visual que lembrava Che Guevara, com barba e cabelos compridos, e ainda era estudante de medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), envolvido nas questões políticas de sua Universidade, participando do movimento estudantil e se declarando socialista em plena Ditadura.

Em 1968, na época de estudante de medicina ao mesmo tempo em que era jogador, Afonsinho quase trocou o esporte pela luta armada. Participando dos grupos de discussão da Universidade, acabou pensando na sua entrada para a luta armada após um dos acontecimentos mais emblemáticos durante os anos de chumbo: o assassinato do estudante Edson Luís Souto. As consequentes manifestações nas ruas do Rio empolgaram o atleta que era filho de ferroviários e desde criança, quando morava em Marília, no interior de São Paulo, convivia com causas sociais, aprendendo dos pais a ter preocupações sociais. Afonsinho acabou não entrando na resistência armada contra a Ditadura, mas passou a ser cada vez mais vigiado.

Foi em 1970 que o jogador encontrou os primeiros problemas com o Governo brasileiro. Ele foi emprestado pelo Botafogo ao Olaria, pois teria “entrado em divergências” com a diretoria do clube. O atleta aproveitou o exílio forçado no time emprestado para completar seus estudos em medicina e terminar o seu curso superior. Na época, o técnico do fogão era Zagallo, treinador da seleção brasileira na Copa de 1970, colocado pelos militares no comando da seleção depois de substituir João Saldanha (leia o nosso post sobre Saldanha).

Não sendo muito utilizado no Olaria, voltou no mesmo ano ao fogão, mas foi proibido de jogar e treinar no Botafogo, sendo pedido pela diretoria que ele cortasse sua barba e cabelos longos. Afonsinho se negou e pediu a liberação de seu passe. Como a diretoria do time carioca não cedeu, ele entrou na justiça e se tornou o primeiro atleta do Brasil a ganhar na justiça o direito do passe livre, em março de 1971.

O fato foi tão marcante que Pelé, em fim carreira no Santos, declarou em 1972 que “O único homem livre do Brasil é o Afonsinho”. Pelé argumentou: “homem livre em futebol? Homem livre eu só conheço um: Afonsinho. Este sim pode dizer com suas palavras que deu o grito de independência ou morte”.

Após a conquista do passe livre, Afonsinho não teve vida fácil para encontrar novos clubes dispostos a aceitar um rebelde jogador na situação política pela qual o país se encontrava. Quando acertou com o Santos, em uma excursão internacional com o time praiano do estado de São Paulo, um jornalista o avisou que estava sendo monitorado, pois os militares acreditavam que Afonsinho iria aproveitar para contatar socialistas em alguma embaixada.

Lutando então contra a repressão e monitoramento da Ditadura, além de encarar os preconceitos dos clubes perante seu jeito subversivo, Afonsinho acabou encerrando sua carreira no futebol no Fluminense, em 1981.

A revolta de um jogador contra o sistema em vigor acabou marcando Afonsinho como um símbolo de luta pela liberdade em pleno Governo Médici, sendo um ícone para a resistência da esquerda. Por sua rebeldia e engajamento político acabou inspirando a música "Meio de Campo" de Gilberto Gil, gravada em 1973, e foi tema do filme “Passe Livre”, longa-metragem dirigido por Oswaldo Caldeira, realizado em 1974.


(por Thomaz Lemmi)



Ouça a música de Gilberto Gil sobre Afonsinho:



Veja ainda o documentário "Passe Livre":





terça-feira, 27 de maio de 2014

Maracanã: decisivo no sequestro do embaixador

A luta armada representou para alguns grupos opositores o único modo de enfrentar a ditadura militar no Brasil. Convencidos do papel revolucionário da esquerda, grupos políticos como o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) e a ALN (Ação Libertadora Nacional) tomaram a frente dos embates armados contra o regime militar.

Sequestro do embaixador libertou 15 presos políticos em 1969

Apesar do pouco apoio popular e da depreciação da imprensa, a estratégia da luta armada deu certo tempo durante um tempo, angariando não só capital para o movimento, bem como conquistando vitórias nos planos político e simbólico.

O primeiro grande ato de força da guerrilha foi o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, que havia chegado ao país há apenas dois meses. A ação audaciosa dos guerrilheiros colocou a Junta Militar que governava o país (substituindo o general Costa e Silva afastado após problemas de saúde) em uma situação extremamente complicada.

Governo cedeu à luta armada
Atender às exigências dos chamados “terroristas” poderia demonstrar fragilidade do regime e, ao mesmo tempo, permitir que o embaixador sofresse algum dano físico, indisporia os militares com seu principal aliado externo.

A captura do diplomata ocorreu no dia 4 de setembro de 1969. Levado para uma residência alugada no subúrbio do RJ, no bairro do Rio Comprido, Elbrick ficou trancafiado cerca de três dias. Mesmo após descoberto o esconderijo, a polícia preferiu não entrar, temendo que a invasão levasse à morte do diplomata.

A condição dos guerrilheiros para libertar o embaixador exigia a soltura de 15 presos políticos e a leitura e publicação de uma carta-manifesto pela grande mídia, na qual expunham os motivos do sequestro.
Ao governo restou ceder. Após intensas negociações, os militares garantiram a soltura dos militantes presos, que seriam levados ao México.

Certificados de que os companheiros tinham chegado ao exílio, restava ainda uma complicada tarefa: libertar o embaixador sem que fossem presos. Depois de inúmeras confabulações, a ala carioca que havia ajudado no sequestro deu uma sugestão: soltar o embaixador em frente ao Maracanã.

O esconderijo dos guerrilheiros ficava relativamente próximo ao estádio. E, por uma coincidência agradável, naquele final de semana aconteceria a estreia do Fluminense no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, diante do Cruzeiro. Oportunidade ímpar para realizar a difícil empreitada de libertação do embaixador. 

Na saída dos 31 mil pagantes do jogo, segundo informação do jornal Diário da Noite de oito de setembro de 1969, Charles Elbrick foi solto. Aproveitando-se da mobilização, movimentação e trânsito causado pelo futebol, os opositores do regime conseguiram se desvencilhar da polícia.

Apesar do sucesso da ação, a ditadura empreendeu uma caçada feroz aos militantes envolvidos no sequestro do diplomata. Quase todos foram presos e torturados, enquanto alguns foram assassinados por agentes do regime. Sem querer, o futebol teve parte importante na conclusão daquela ousadia. Em meio à multidão de torcedores, a história teve um rápido final feliz. Pena que demoraria pouco.


(Por Thiago Kater)


Leia também
O outro lado do jogo
 


***

Para saber mais sobre o assunto, assista ao documentário "Hércules 56", do diretor Sílvio Da-Rin.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Seminário "Política F.C. - O futebol na ditadura"


2014 é um ano importante para o povo brasileiro. Marca a realização da segunda Copa do Mundo no Brasil, os 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas, os 20 da conquista do tetracampeonato, os 30 anos da campanha pelas Diretas Já e, infelizmente, os 50 do Golpe Militar. 

Seleção campeã em 1970 foi usada como propaganda pela ditadura militar


Para muitos, futebol e política são como água e azeite: não se misturam. Porém, ao longo das décadas observamos que, de uma forma ou de outra, ambos se cruzam e trilham os mesmos caminhos.

Além de conquistar torcedores, o futebol despertou nos políticos uma atração poderosa, que o transformou numa importante plataforma rumo ao poder.

Foram aspectos como esses que levaram à criação da exposição “PolíticaF.C. – o futebol na ditadura”, que entra em cartaz no Memorial da Resistência de São Paulo no próximo dia 14 de junho.

A proposta é apresentar ao torcedor momentos importantes da história nacional e do mundo em que futebol e política se misturaram. O foco principal é mostrar como a ditadura brasileira usou imagem da Seleção, especialmente na Copa de 1970, para vender ao povo e ao resto do mundo a falsa ideia de que o Brasil estava se transformara numa potência dentro e fora dos gramados.

Mas, antes da abertura da exposição, convidamos o público a discutir essa intrigante relação entre política e futebol num seminário que reunirá historiadores, jornalistas e ex-jogadores para debater diferentes aspectos deste assunto.

Com entrada franca e certificado de participação, o público acompanhará cinco dias de discussões, exibição de filmes e relatos que provam que política e futebol são tão entrosados quanto as tabelinhas de Pelé e Tostão.

Confira a programação**:

DIA 03 DE JUNHO (TERÇA-FEIRA)
13h às 15h30: Mesa-Redonda “O futebol explica o mundo e o Brasil”
Esta mesa-redonda tem como objetivo discutir a influência do futebol na construção da identidade nacional do Brasil, mostrando como ao longo dos séculos o esporte foi utilizado pelos políticos.

Participantes:
- Flávio de Campos - (Historiador, professor do curso de pós-graduação História Sociocultural do Futebol e coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre Futebol e Modalidades Lúdicas – LUDENS)

- José Paulo Florenzano - (Cientista social, graduado, mestre e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. É professor da PUC-SP e realiza o pós-doutorado sobre o Santos Futebol Clube)

- Ednilson Valia (Jornalista, atua na área há mais de 20 anos. Cobriu quatro Copas do Mundo e três Olimpíadas. Desenvolve cursos sobre jornalismo esportivo com ênfase na prática. Foi pioneiro nas transmissões ao vivo pela internet. Trabalha no Portal Terceiro Tempo)

15h45 às 18h: exibição do filme “O Ano que meus pais saíram de férias”
É 1970 e o Brasil vai entrar em campo para lutar pelo tricampeonato na Copa do México. Mauro, de 12 anos, adora futebol, mesmo o de botão, e está ansioso para o início do torneio. Sua idade não o deixa perceber que o país passa por um dos momentos políticos mais delicados de sua história, com um governo militar ditatorial, que suprimiu todas as formas de liberdade. Inclusive a de seus pais, que, por serem de esquerda, são obrigados a viver na clandestinidade e a deixá-lo com o avô, mas este falece. (Direção: Cao Hamburger)

Debate:
- Domingos Fernandes (Ex-preso político. Militante da Ação Libertadora Nacional, foi um dos presos trocados pelo embaixador alemão, em 1970, em ação ocorrida durante a Copa do Mundo).

- Helvídio Mattos (Jornalista. Muitas vezes premiado, trabalha na área de esportes desde os anos 1970. Está na ESPN Brasil desde 1996, onde é Coordenador de Especiais. Teve passagem marcante pela TV Cultura, com os programas Vitória e Grandes Momentos do Esporte)

Moderador:
- Celso Unzelte (Jornalista. Considerado o maior historiador do Corinthians. Tem participações em jornais, revistas e sites. Participa do programa “Loucos por Futebol”, da ESPN Brasil. É professor de jornalismo da Cásper Líbero)


DIA 04 DE JUNHO (QUARTA-FEIRA)
13h às 15h30: Mesa-Redonda “Lugar de política... é no estádio”
A ideia desta mesa-redonda é mostrar como os estádios de futebol no Brasil – e no mundo – tornaram-se importantes para o fazer política. Será discutido como políticos de diferentes correntes se utilizaram deste expediente.

Participantes:
- Bernardo Borges Buarque de Hollanda - (Cientista social. Doutor em História Social da Cultura (PUC-RJ). Pós-doutorado na Maison des sciences de l’homme (MSH-Paris). É professor adjunto da Escola Superior de Ciências Sociais e pesquisador do CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (RJ). Autor de diversos livros sobre o tema) 

- Denaldo Alchorne de Souza - (Historiador. Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pós-doutorando pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre Futebol e Modalidades Lúdicas - LUDENS. Atua em estudos que abordam a construção da identidade nacional através do futebol)

- Alberto Helena Jr - (Jornalista. Foi redator e diretor de redação da agência Interpress, trabalhou na Folha de S. Paulo (SP), na revista O Cruzeiro (RJ) e no Jornal da Tarde (SP), Trabalha como comentarista no SporTV)

Moderador:
- Milton Bellintani (Jornalista e professor universitário, foi editor de diversas publicações da Editora Abril de 1987 a 2001. Cobriu a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. É diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política)


- 15h45 às 18h: exibição do filme "João Saldanha”
Jogador, técnico, jornalista e polemista, João Saldanha (1917-1990) sempre foi bom de briga. O filme visita os principais fatos que marcaram a vida de Saldanha, um homem sempre envolvido nos grandes acontecimentos do país, especialmente na luta pela democracia, futebol e cultura. (Direção: André Iki Siqueira e Beto Macedo)


Debate:
- André Iki Siqueira (Escritor, jornalista, documentarista. Autor do livro “João Saldanha, uma vida em jogo” e co-diretor do filme “João”, sobre a vida de João Saldanha)

- Luis Menon - (Jornalista. Formado em engenharia, atua como jornalista desde 1988. Tem passagens pelo portal Trivela e Agora e Jornal da Tarde. É autor dos livros "Os 11 Maiores Goleiros do Futebol Brasileiro" e "Nascido Para Vencer". É colunista do UOL)

Moderador:
- Vanessa Gonçalves (Jornalista, subeditora do Portal IMPRENSA. Pós-graduada em jornalismo esportivo e negócios do esporte, atuou sete anos como redatora, editando revistas e materiais publicitários. Diretora do Núcleo de Preservação da Memória Política, é autora do livro “Eduardo Leite Bacuri”)


DIA 05 DE JUNHO (QUINTA-FEIRA)
13h às 15h30: Mesa-Redonda “90 milhões em ação?”
Esta Mesa tem como objetivo discutir o uso da seleção brasileira pela ditadura militar como imagem do “Brasil Grande”. Ainda debaterá a presença do comunista João Saldanha no comando da seleção de 1970 e a implicações da militarização da comissão técnica naquele período.

Participantes:
- Lívia Magalhães (Historiadora. Mestre em Estudios Latinoamericanos pelo Centro de Estudios Latinoamericanos da Universidad Nacional de San Martín, Argentina (2008); doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (2013). Autora do livro “Histórias do Futebol”. Escreve nos blog Clube da Bolinha, por Luluzinhas e Hispanic American Historial Review, da Universidade de Duke. É membro do Núcleo de Estudos Contemporâneos da UFF)

- Juarez Soares (Jornalista, começou a carreira 1958, quando foi convidado para trabalhar na rádio Cultura de Lorena (SP). Em agosto de 1968, foi contratado como repórter esportivo da Equipe 1040, na rádio Tupi. Na Excelsior, comandou com Osmar Santos o programa Balancê. Tem passagens pela TV Excelsior, Globo (de 1974 a 1982), Record e Bandeirantes, onde integrou a equipe do Show do Esporte, comandada por Luciano do Valle. Em 1994, transferiu-se para o SBT, onde trabalhou até o ano 2000)

- Silvio Lancellotti (Jornalista e arquiteto, iniciou duas carreiras simultaneamente, em 1968. Integrou a equipe que fundou a revista Veja. Em 1972, foi estudar jornalismo na Universidade de Stanford (EUA) e acabou cobrindo três grandes fatos: as mortes de Martin Luther King e Bobby Kennedy e a reeleição de Richard Nixon. Foi diretor de redação da Vogue e aderiu ao time de Mino Carta na revista IstoÉ, como secretário de redação e editor-chefe. Também colaborou com O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. Na televisão, apresentou programas gastronômicos e foi comentarista esportivo nas redes Record, Manchete e Bandeirantes e ESPN Brasil. Escreve um blog no portal R7)


- Eduardo Roberto Stinghen (Ado) -  (Começou a carreira no Londrina (PR) em 1966. Foi goleiro do Corinthians de 1969 a 1974 e reserva de Félix na seleção brasileira de 1970. Jogou no América (RJ) em 74, no Atlético Mineiro em 75, Portuguesa em 76, no Velo Clube (SP) e no Santos em 76, Ferroviário (CE) em 77, Fortaleza (CE) de 78 a 80 e Bragantino em 82)

Moderador:
- Vanessa Gonçalves

15h45 às 18h: exibição do filme “Copa de 70”
O documentário baseia-se na edição dos depoimentos concedidos por 14 ex-atletas que participaram da copa de 1970, no méxico. Com imagens autorizadas pela Fifa, o filme narra a versão dos jogadores acerca dos preparativos, dos jogos e do retorno da equipe tricampeã ao Brasil. (direção: Bernardo B. Buarque de Hollanda)

Debate:
- Gilvan Ribeiro (Jornalista, começou a carreira colaborando para a revista Globo Rural, enquanto terminava a faculdade. A partir daí, construiu toda a carreira na editoria de Esportes. Em 1987, passou a trabalhar na Folha de S.Paulo e depois na Folha da Tarde. Em 1991, transferiu-se para o Diário Popular, que depois adotaria o nome Diário de S.Paulo, onde ficou até 2013. Passou pela TVA  Sports, depois Espn Brasil, entre 1994 e 1998. Co-autor do livro "Casagrande e Seus Demônios", biografia de Walter Casagrande)

- Milton Saldanha (Jornalista. Idealizador do jornal Dance, onde é editor e jornalista responsável. Foi repórter e exerceu cargos de chefia em alguns dos principais veículos do País, como a Rede Globo, os jornais O Estado de S.Paulo (SP) e Jornal da Tarde (SP), o Diário do Grande ABC (SP), a revista Motor 3 (SP), a Folha da Manhã (RS) e outros. Foi repórter do Última Hora (SP). Sobrinho de João Saldanha. É autor do livro "O País Transtornado")

Moderador:
- Vanessa Gonçalves

DIA 06 DE JUNHO (SEXTA-FEIRA)
13h às 15h30: Mesa-Redonda “Condor nas canchas”
As ditaduras latino-americanas utilizaram o futebol como propaganda de seus governos. Esta mesa-redonda tem como objetivo apresentar esses casos e discutir as consequências disso.


Participantes:
- Lívia Magalhães (Historiadora. Mestre em Estudios Latinoamericanos pelo Centro de Estudios Latinoamericanos da Universidad Nacional de San Martín, Argentina (2008); doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (2013). Autora do livro “Histórias do Futebol”. Escreve nos blog Clube da Bolinha, por Luluzinhas e Hispanic American Historial Review, da Universidade de Duke. É membro do Núcleo de Estudos Contemporâneos da UFF)

- Humberto Kinjô - (Ex-exilado político, esteve no Chile durante o golpe militar. Conseguiu entrar numa embaixada após enganar o guarda sobre uma camisa de Roberto Rivellino, jogador da seleção brasileira)

- Clayton Netz - (Jornalista e ex-preso político. Redator-chefe da revista IstoÉ Dinheiro, foi perseguido pela ditadura militar, chegando a ter que se asilar no Chile, sendo um dos presos no Estádio Nacional)

Edgardo Martolio (Jornalista argentino. Edita a Revista Caras no Brasil desde seu lançamento. Foi correspondente na Europa pela Editora Perfil, de Buenos Aires. Nos anos da ditadura militar de seu país, cobriu guerras como a do Ulster, entrevistou Reis, Papas e Prêmios Nobel; aventureiro, viveu num veleiro por dois anos no Caribe e numa 4x4 outros dois anos na África. Recebeu mais de trinta prêmios, muitos deles internacionais. É autor de "Glória Roubada: O Outro Lado das Copas")

Moderador:
- Milton Bellintani

15h45 às 18h: exibição do filme “Estádio Nacional”
O filme mostra como o principal campo de futebol do Chile – onde o Brasil conquistou a Copa do Mundo de futebol de 1962 – foi transformado em centro de detenção, tortura e assassinato de opositores nos meses seguintes ao golpe de Estado dado pelo general Augusto Pinochet, no dia 11 de setembro de 1973. (Direção: Carmen Luz Parot)

DIA 07 DE JUNHO (SÁBADO)
13h às 15h30: Mesa-Redonda “Perseguidos”
Jogadores de futebol e militantes políticos foram perseguidos durante o regime militar por se oporem à ditadura. Nesta mesa-redonda, estes personagens vão contar suas histórias e mostrar como política e futebol se misturam.

Participantes:
- Afonso Celso Garcia Reis (Afonsinho) (Ex-jogador. Polêmico, foi o primeiro jogador a brigar pela Lei do Passe no Brasil. Por suas posições de esquerda, foi fichado no DOPS e convidado a integrar organizações de luta contra o regime)

- Fernando Coimbra (Nando)(Ex-jogador. Irmão de Zico, foi perseguido e preso pela ditadura militar por ter participado do Plano Nacional de Alfabetização. Único ex-jogador anistiado)

- Manoel Cyrillo(Publicitário. Ex-preso político, militava na Ação Libertadora Nacional-ALN e participou do sequestro do embaixador americano, em 1969)

Moderador:
- Vanessa Gonçalves

- 15h45 às 18h: exibição do filme "Ser Campeão é Detalhe"
O documentário conta as origens e o desenvolvimento da Democracia Corintiana que proporcionou uma maior liberdade de expressão e organização dos jogadores do Corinthians, conquistando o bicampeonato paulista em 1982 e 1983. (direção: Gustavo Forte Leitão e Caetano Biasi)

Debate:
- Gustavo Longhi de Carvalho - (Jornalista, engenheiro mecânico, professor e pesquisador jornalístico. Tem textos ligados a esportes publicados em jornais e revistas. Colaborou com diversos livros. É autor de "Infográficos das Copas", em parceria com Rodolfo Rodrigues; "Copas do Mundo das Eliminatórias ao Título", com José Renato Sátiro Santiago Junior, e "Milani - O artilheiro aviador")

- José Paulo Florenzano - (Cientista social, graduado, mestre e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. É professor da PUC-SP e realiza o pós-doutorado sobre o Santos Futebol Clube)

- Cláudio Roberto Sollito (Solito) -  (Lançado na equipe profissional corintiana em 1975. Jogou pelo Taubaté (SP) e Náutico, antes de retornar ao Corinthians para ser bicampeão paulista (1982-1983). Foi o titular da equipe na primeira fase da Democracia Corintiana. Atualmente, joga no time de masters do Corinthians)

Caetano Tola Biasi - (Formando em midialogia pela Unicamp, onde em 2008 dirigiu "Ser Campeão é Detalhe: Democracia Corinthiana" em parceria com Gustavo Forti Leitão, lançado no Museu do Futebol em 2011.

Moderador:
- Vanessa Gonçalves

SERVIÇO:
Seminário "Política F. C. - O futebol na ditadura"
Endereço: Largo General Osório, 66 – Luz - Auditório Vitae – 5º andar
Período: de 03 a 07 de junho de 2014, das 13h às 18h
Entrada: Franca*


* O auditório tem capacidade para 160 pessoas.  Ingressos para cada mesa deverão ser retirados na portaria com 30 minutos de antecedência

** Programação sujeita a alterações.