A luta armada representou para alguns grupos
opositores o único modo de enfrentar a ditadura militar no Brasil. Convencidos
do papel revolucionário da esquerda, grupos políticos como o MR-8 (Movimento
Revolucionário 8 de outubro) e a ALN (Ação Libertadora Nacional) tomaram a
frente dos embates armados contra o regime militar.
Sequestro do embaixador libertou 15 presos políticos em 1969 |
Apesar do pouco apoio popular e da
depreciação da imprensa, a estratégia da luta armada deu certo tempo durante um
tempo, angariando não só capital para o movimento, bem como conquistando
vitórias nos planos político e simbólico.
O primeiro grande ato de força da
guerrilha foi o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke
Elbrick, que havia chegado ao país há apenas dois meses. A ação audaciosa dos
guerrilheiros colocou a Junta Militar que governava o país (substituindo o
general Costa e Silva afastado após problemas de saúde) em uma situação
extremamente complicada.
Governo cedeu à luta armada |
Atender às exigências dos chamados
“terroristas” poderia demonstrar fragilidade do regime e, ao mesmo tempo,
permitir que o embaixador sofresse algum dano físico, indisporia os militares
com seu principal aliado externo.
A captura do diplomata ocorreu no dia 4 de
setembro de 1969. Levado para uma residência alugada no subúrbio do RJ, no
bairro do Rio Comprido, Elbrick ficou trancafiado cerca de três dias. Mesmo
após descoberto o esconderijo, a polícia preferiu não entrar, temendo que a
invasão levasse à morte do diplomata.
A condição dos guerrilheiros para
libertar o embaixador exigia a soltura de 15 presos políticos e a leitura e
publicação de uma carta-manifesto pela grande mídia, na qual expunham os
motivos do sequestro.
Ao governo restou ceder. Após intensas
negociações, os militares garantiram a soltura dos militantes presos, que seriam
levados ao México.
Certificados de que os companheiros tinham
chegado ao exílio, restava ainda uma complicada tarefa: libertar o embaixador
sem que fossem presos. Depois de inúmeras confabulações, a ala carioca que
havia ajudado no sequestro deu uma sugestão: soltar o embaixador em frente ao
Maracanã.
O esconderijo dos guerrilheiros ficava
relativamente próximo ao estádio. E, por uma coincidência agradável, naquele final
de semana aconteceria a estreia do Fluminense no Torneio Roberto Gomes Pedrosa,
diante do Cruzeiro. Oportunidade ímpar para realizar a difícil empreitada
de libertação do embaixador.
Na saída dos 31 mil pagantes do jogo, segundo
informação do jornal Diário da
Noite de oito de setembro de
1969, Charles Elbrick foi solto. Aproveitando-se da mobilização, movimentação e
trânsito causado pelo futebol, os opositores do regime conseguiram se
desvencilhar da polícia.
Apesar do sucesso da ação, a ditadura
empreendeu uma caçada feroz aos militantes envolvidos no sequestro do
diplomata. Quase todos foram presos e torturados, enquanto alguns foram
assassinados por agentes do regime. Sem querer, o futebol teve parte importante
na conclusão daquela ousadia. Em meio à multidão de torcedores, a história teve
um rápido final feliz. Pena que demoraria pouco.
(Por Thiago Kater)
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Para saber mais sobre o assunto, assista ao documentário "Hércules 56", do diretor Sílvio Da-Rin.
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