terça-feira, 27 de maio de 2014

Maracanã: decisivo no sequestro do embaixador

A luta armada representou para alguns grupos opositores o único modo de enfrentar a ditadura militar no Brasil. Convencidos do papel revolucionário da esquerda, grupos políticos como o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) e a ALN (Ação Libertadora Nacional) tomaram a frente dos embates armados contra o regime militar.

Sequestro do embaixador libertou 15 presos políticos em 1969

Apesar do pouco apoio popular e da depreciação da imprensa, a estratégia da luta armada deu certo tempo durante um tempo, angariando não só capital para o movimento, bem como conquistando vitórias nos planos político e simbólico.

O primeiro grande ato de força da guerrilha foi o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, que havia chegado ao país há apenas dois meses. A ação audaciosa dos guerrilheiros colocou a Junta Militar que governava o país (substituindo o general Costa e Silva afastado após problemas de saúde) em uma situação extremamente complicada.

Governo cedeu à luta armada
Atender às exigências dos chamados “terroristas” poderia demonstrar fragilidade do regime e, ao mesmo tempo, permitir que o embaixador sofresse algum dano físico, indisporia os militares com seu principal aliado externo.

A captura do diplomata ocorreu no dia 4 de setembro de 1969. Levado para uma residência alugada no subúrbio do RJ, no bairro do Rio Comprido, Elbrick ficou trancafiado cerca de três dias. Mesmo após descoberto o esconderijo, a polícia preferiu não entrar, temendo que a invasão levasse à morte do diplomata.

A condição dos guerrilheiros para libertar o embaixador exigia a soltura de 15 presos políticos e a leitura e publicação de uma carta-manifesto pela grande mídia, na qual expunham os motivos do sequestro.
Ao governo restou ceder. Após intensas negociações, os militares garantiram a soltura dos militantes presos, que seriam levados ao México.

Certificados de que os companheiros tinham chegado ao exílio, restava ainda uma complicada tarefa: libertar o embaixador sem que fossem presos. Depois de inúmeras confabulações, a ala carioca que havia ajudado no sequestro deu uma sugestão: soltar o embaixador em frente ao Maracanã.

O esconderijo dos guerrilheiros ficava relativamente próximo ao estádio. E, por uma coincidência agradável, naquele final de semana aconteceria a estreia do Fluminense no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, diante do Cruzeiro. Oportunidade ímpar para realizar a difícil empreitada de libertação do embaixador. 

Na saída dos 31 mil pagantes do jogo, segundo informação do jornal Diário da Noite de oito de setembro de 1969, Charles Elbrick foi solto. Aproveitando-se da mobilização, movimentação e trânsito causado pelo futebol, os opositores do regime conseguiram se desvencilhar da polícia.

Apesar do sucesso da ação, a ditadura empreendeu uma caçada feroz aos militantes envolvidos no sequestro do diplomata. Quase todos foram presos e torturados, enquanto alguns foram assassinados por agentes do regime. Sem querer, o futebol teve parte importante na conclusão daquela ousadia. Em meio à multidão de torcedores, a história teve um rápido final feliz. Pena que demoraria pouco.


(Por Thiago Kater)


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Para saber mais sobre o assunto, assista ao documentário "Hércules 56", do diretor Sílvio Da-Rin.

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