quinta-feira, 8 de maio de 2014

Friedenreich vai à guerra

No Brasil, política e futebol se misturam desde os primórdios do desenvolvimento do esporte no País. Um dos primeiros casos em que os dois assuntos se misturaram remonta a Revolução Constitucionalista de 1932.

Arthur Friedenreich fez parte do Batalhão do Esporte

O movimento liderado por São Paulo surgiu como resposta à Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, e tinha como objetivo a derrubada do Governo Provisório e a promulgação de uma nova Constituição no Brasil. Batalhões de diversos segmentos da sociedade paulistana se formaram, entre eles o Batalhão Esportivo, formado por atletas de diversas modalidades.

Nos poucos meses de conflito, entre julho e outubro de 1932, São Paulo viveu um verdadeiro esforço de guerra. Além  das indústrias se mobilizarem para atender às necessidades de armamentos, a população se uniu na chamada "Campanha do Ouro para o Bem de São Paulo".

Os esportistas que apoiavam o movimento, entre eles o jogador Arthur Friedenreich – o El Tigre –, faziam campanha para que a população doasse objetos de ouro para a Revolução. Para incentivar, muitos cederam troféus e medalhas.

O Club Athlético Paulistano, por exemplo, doou seus troféus. No entanto, muitos foram resgatados por seus associados que os compraram para não serem derretidos. A diretoria do Santos Futebol Clube foi uma das mais ativas na campanha, chegando a propor entregar ao movimento todas as taças de sua galeria. Isso só não aconteceu porque, na última hora, alguns dirigentes organizaram uma coleta para angariar os recursos necessários e evitar a perda de seu patrimônio esportivo.

Friedenreich foi além das doações de medalhas e troféus. O jogador, que era um dos mais renomados na época, se alistou no Batalhão Esportivo e usou o rádio para encorajar a adesão da população ao movimento. "Imiteis meu gesto, inscrevendo-vos na Mobilização Esportiva, a fim de que todos juntos defendamos a causa sagrada do Brasil. Tudo por São Paulo num Brasil unido!", declarou Fried.

Em jornal, Fried convoca população para a Revolução

Segundo a Folha da Noite, de 19 de julho de 1932, diversos times da capital se envolveram no conflito em defesa de São Paulo. Os exércitos se reuniam no Campo da Floresta, antigo estádio do São Paulo, enquanto o Corinthians colocou à disposição seu "Departamento de Educação Physica, todas as suas instalações, tanto a sua sede, como sua praça de esporte".

Ao contrário do que se pensava, os atletas do Batalhão Esportivo não eram oportunistas, realmente acreditavam na causa. Tanto é que receberam treinamento físico e militar. Todos atuaram efetivamente na área de Eleutério, município de Itapira, próximo à fronteira mineira.

O levante paulistano chegou ao fim em 4 de outubro deixando uma importante herança para o futebol. No ano seguinte, Getúlio Vargas deu um golpe de mestre para acabar com as rusgas com o futebol paulista. Além de instituir a profissionalização do futebol, ainda criou a Taça Rio-São Paulo, como uma forma clara de reaproximar a capital federal com São Paulo. Para o presidente, o futebol deixara de ser apenas um simples esporte, para se tornar numa ótima ferramenta de governo.


(Por Amanda Macedo e Vanessa Gonçalves)


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Para saber mais sobre o assunto, leia o livro "O Futebol Explica o Brasil", de Marcos Guterman.

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