quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Com apoio de jogadores, avó encontra neto sequestrado na ditadura

Na última terça-feira (5/8), o mundo se emocionou com a notícia de que Estela de Carlotto, líder da organização argentina Avós de Praça de Maio, encontrou o neto desaparecido há 35 anos. 

Jogaores da seleção gravaram campanha de apoio às Mães da Praça de Maio

Guido nasceu em cativeiro e desapareceu durante a última ditadura argentina (1976-1983). Ele é o filho de Laura, filha desaparecida de Estela, morta logo após dar a luz. O jovem teve sua verdadeira identidade confirmada após se apresentar voluntariamente para fazer um exame genético.
"Já tenho meus 14 netos comigo. Não queria morrer sem abraçá-lo", disse Estela na entrevista coletiva na qual confirmou o reencontro com seu neto.

Embora avó e neto não tenham se encontrado pessoalmente, a história repercutiu mundo afora, tocando inclusive alguns jogadores da seleção argentina, que pouco antes de embarcarem para a Copa do Mundo no Brasil, participaram de  um spot para a TV apoiando a luta das Avós da Praça de Maio.

Lionel Messi e Javier Mascherano usaram as redes sociais para comentar a vitória de Estela.

“Feliz e animado por terem encontrado o neto de Estela de Carlotto. Temos que continuar com a luta, porque ainda há muito mais. Contem com todo o nosso apoio”, escreveu Messi na sua conta do Facebook.

No Twitter, Javier Mascherano postou uma foto com as avós e escreveu: "Dois meses se passaram desta foto. Feliz pelo aparecimento do neto de Estela de Carlotto. Vamos continuar [a luta] pelos que faltam [encontrar]!!!!

O craque Diego Maradona também comentou o fato: “Não é só o futebol pode nos unir”, disse o ídolo argentino.


(Por Vanessa Gonçalves)

domingo, 29 de junho de 2014

Depoimento: Joel Rufino


"Essa minha passagem de jogador profissional é interessante para mostrar que o exilado se virava"

O historiador, professor e escritor Joel Rufino dos Santos foi um dos intelectuais que precisou se exilar assim que os militares deram o golpe no Brasil em 1964. Nesse período, precisou arrumar uma forma de sobreviver na Bolívia, primeira parada do exílio de um ano e meio. A solução: jogar futebol.

Joel Rufino dos Santos

Com a ajuda de outro brasileiro, Rufino chegou ao Bolívar, importante equipe profissional de La Paz, atuou como jogador durante três meses. O clube pagava o hotel e garantia um ordenado para que pudesse se sustentar nesses tempos difíceis.

No depoimento para o documentário da exposição "Política F. C. - o futebol na ditadura", que pode ser assistido na mostra, ele conta suas peripécias no gramado e a visita de João Saldanha.

"Em 1964, eu fui exilado para Bolívia e Chile. Imediatamente ao golpe eu me exilei. Bom, quem estava no exílio e era pobre se virava. Quem tinha grana, recebia grana do Brasil, dos parentes. Eu, como alguns outros, me virei. Por exemplo, [Gianfrancesco] Guarnieri e Juca [de Oliveira] saíam toda manhã com uma mala para vender roupa usada. Faziam camelagem. E eu saía para o treino do Bolívar. 

O técnico era também um brasileiro exilado, Vinícius Ruas, então ele me deu meu um lugar no time. Eu fiquei à espera de um contrato por três meses, enquanto isso eles pagavam meu hotel, me davam lá uns 50 dólares por semana e o contrato não saiu porque fui embora para o Chile.

Essa minha passagem de jogador profissional é interessante para mostrar que o exilado se virava, do jeito que fosse. Eu sabia mais como jogar bola do que jogava propriamente. Tem uma sutileza.

Eu estava nesse Bolívar e o Botafogo foi jogar em La Paz e o [João] Saldanha quis saber como jogava o time do Bolívar, quem jogava etc. E alguém informou para ele: "–Ah, tem um neguinho lá que se ele for escalado ele organiza o time". E ele disse: " – Quem é esse neguinho?". Responderam: "– É o Joel Rufino". Aí ele disse: "– Ah, Joelzinho? Joelzinho é do nosso partido. Aquilo não vai dar trabalho nenhum!"".




(Por Vanessa Gonçalves)


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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Defensor e a resistência à ditadura no Uruguai

América do Sul sofreu uma onda repressiva na década de 1970. Brasil, Chile, Uruguai e Argentina foram tomados pelas ditaduras militares, que impuseram aos países o terror de Estado, marcado pelas torturas, mortes e desaparecimentos de opositores políticos.

Equipe do Defensor, campeã uruguaia de 1976

O Uruguai viu a liberdade cair por terra em 1973 e, como os vizinhos, acompanhou a tentativa de seus governantes em buscar no futebol uma forma de fazer propaganda dos mandos e desmandos dos militares.

Em meio a tudo isso, o Defensor Sporting Club conseguiu quebrar a hegemonia de quatro décadas de Nacional e Peñarol, considerados os clubes do regime, e consolidou-se como um símbolo na luta contra a ditadura.

Tudo isso aconteceu em 1976. A equipe de uniforme violeta era comandada por José Ricardo de León, com estreitas relações com a oposição à ditadura uruguaia. Por conta de suas posições políticas, o técnico já tinha sido afastado do comando da seleção celeste.

Mas, no pequeno clube uruguaio, isso pouco importava. Cabia a León criar um estilo de jogo que levasse o Defensor a disputar em pé de igualdade com os times da ditadura. Assim, o treinador privilegiou um estilo de jogo, baseado na pressão alta, na velocidade e na troca de passes, alicerçado na simbiose entre a agressividade, a técnica e a convicção.

O resultado foi épico. O estádio Luis Franzini, onde jogava o Defensor, tornou-se num espaço de liberdade e, respectivamente, numa referência na luta contra “os generais”. 

Suas arquibancadas ficavam repletas de adeptos, que compareciam ao espaço não apenas para assistir aos jogos, mas também para se manifestar politicamente. Em razão disso, muitos torcedores de outros clubes, inclusive de Peñarol e Nacional – passaram a frequentar o  estádio Luis Franzini.

Segundo o escritor Mario Benedetti, "nesse ano de 1976 o clube [Defensor] viveu um momento único, que se traduziu na revolta dos oprimidos contra os senhores, a que ninguém poderia ficar indiferente, nem mesmo um adepto nacionalista como eu. Todos vibrámos com a vitória dos “chicos”, Estava ali a prova que a ditadura não era uma entidade inabalável".

Para coroar este grito de liberdade, o Defensor conquistou o título nacional e, na comemoração, seus jogadores deram uma volta olímpica no sentido anti-horário, ou seja, começando pela esquerda. Embora este tenha sido considerado um ato ‘’normal’’ por muitos, na verdade era uma expressão de liberdade.

Apesar da ditadura, havia resistência...mesmo que nos campos de futebol.

(Por Vanessa Gonçalves) 


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domingo, 22 de junho de 2014

Depoimento: Álvaro Caldas

"A paixão pelo futebol mobilizava muito, mas a gente ficava com dúvida de manifestar uma euforia com isso"


O jornalista Álvaro Caldas foi militante do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCBR). Trabalhava no jornal O Globo, mas foi demitido por ter sido visto em uma manifestação no Rio de Janeiro.

Álvaro Caldas

Nesse período, manteve a militância em paralelo ao trabalho como repórter do Jornal do Brasil. A queda de alguns companheiros acarretou na sua prisão em 1969. 

Em razão disso, durante a Copa do México, em 1970, estava preso no quartel militar Regimento Sampaio. Nas celas daquele local, acompanhou os lances da campanha do Brasil rumo ao tricampeonato Mundial.

Em depoimento para o documentário da exposição "Política F. C. - o futebol na ditadura", que pode ser assistido na mostra, ele comenta como os presos políticos do Regimento Sampaio encararam a torcida pela seleção naquele período.

"A gente começou a acompanhar a Copa, mas com um sentimento muito ambíguo, muito duvidoso. A gente sabia que estava sendo explorado o sucesso da Copa. Tinha uma seleção maravilhosa em 1970, como poucas vezes. Talvez, tenha sido a melhor seleção brasileira de todos os tempos, com Pelé, com Gérson, com Rivellino, com Clodoaldo, um timaço! Com Tostão...

Então era um time... A paixão pelo futebol mobilizava muito, mas a gente ficava com dúvida de manifestar uma euforia com isso. Quando chegava um soldado de dizia: 'O Brasil ganhou'. A gente: 'Ah, é? Está bom!'. Mas não era aquela coisa de levantar os braços e comemorar, porque a gente também via que a ditadura, o Médici, soube aproveitar o sucesso da Copa. E tinha, o que mais irritava, era aquela musiquinha.

E aquilo tocava no alto-falante do quartel e a gente ouvia pelos rádios ali também: "Pra frente Brasil, salve a seleção". Era um canto bem de euforia, bem de aproveitamento, como se a seleção fosse o país e o país fosse a ditadura.

O que compensou um pouco foi que a gente depois ficou sabendo que houve manifestações, como agora se prevê para essa Copa. Houve depredações, houve quebra de ônibus, houve algumas manifestacões na rua, de protesto, não sei exatamente se foi de protesto contra a seleção, mas para nós aquilo foi 'tambem teve isso: o pessoal protestou também, não só comemorou'."





(Por Vanessa Gonçalves)


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sábado, 21 de junho de 2014

Messi abraça luta das Mães da Praça de Maio


A luta das Madres de Plaza de Mayo (Mães da Praça de Maio) na Argentina é conhecida em todo o mundo. Afinal, desde 1977, apenas um ano após o golpe comandado pelo general Jorge Videla, essas mulheres se reúnem semanalmente para exigir do governo explicações sobre o desaparecimento de seus filhos e, especialmente, o paradeiro de seus netos, sequestrados pelos agentes militares.

Messi participa da campanha para encontrar crianças sequestradas na ditadura

Estima-se que 30 mil pessoas tenham sido presas, torturadas e mortas pela repressão. Entre elas, muitas mulheres grávidas, cujos filhos foram roubados como "despojos de guerra" e registrados como legítimos por membros da força de repressão, negando a seus familiares o direito de conviverem.

Ao constatarem isso, as avós dessas crianças criaram uma organização não-governamental com objetivo de localizar e retornar a suas famílias legítimas todas as crianças desaparecidas e sequestradas pela repressão política.

Denominadas como "loucas" por Videla e outros militares, elas seguiram exigindo respostas. Seus gritos ganharam força durante a realização da Copa do Mundo na Argentina, em 1978. 

Países como França e Holanda quase boicotaram o mundial por discordarem da política de violação dos direitos humanos no país, especialmente depois que a Organização dos Estados Americanos (OEA) aceitou a petição das madres sobre os desaparecimentos de seus filhos (as) e netos.

Embora a Copa tenha ocorrido normalmente, alguns jogadores e participantes do campeonato se solidarizaram com a luta das madres e  passaram a fazer protestos a seu favor, entre eles o técnico da seleção alemã Sepp Maier e integrantes da equipe sueca.

Para a felicidade do general, a seleção argentina levantou o troféu no Estádio Monumental lotado e Videla foi ovacionando pela conquista. Muitos questionaram o apoio do povo ao futebol naquele momento. Mas, como no Brasil em 1970, a paixão do argentino pelo esporte falou mais alto, como explicou Hebe de Bonafini, uma das líderes do movimento.  "Como não vou entender  o povo, se em minha própria casa, enquanto eu chorava por meu filho na cozinha, meu esposo gritava os gols na frente do televisor?".

Se naquele momento os jogadores da Argentina não se puseram ao lado das Madres, posteriomente muitos deles lamentaram o fato de terem sido usados pelo governo para fazer propaganda da ditadura. "Nos usaram para esconder os 30 mil desaparecimentos. Me sinto enganado e assumo minha responsabilidade individual: eu era bobo que não via além da bola", disse certa vez Ricardo Villa, um dos campeões em 78.

Jogadores da argentina apoiam prêmio Nobel para as Avós

Em 2010, na Copa da África do Sul, a seleção argentina mostrou pela primeira vez seu apoio à luta das Madres de Plaza de Mayo, quando entraram em campo com uma faixa defendendo que elas fossem escolhidas para ganhar o Nobel da Paz daquele ano.


 
Pouco antes do embarque para o Brasil visando a disputa do mundial de 2014, figuras importantes do escrete argentino fez questão de demonstrar que estão ao lado dessas avós. Em um spot para a TV, Lionel Messi, Javier Mascherano, Ezequiel Lavezzi e o técnico Alejandro Sabella dizem: "Há 10 mundiais estamos te procurando". E pedem: aqueles que duvidam de sua identidade e não temem enfrentar a verdade "Procure a Avós".

Em sua luta, as Madres cantam como nos estádios um aviso para os ex-torturadores: Olé, olé, olá / como a los nazis / les va a pasar / adonde vayan / los iremos a buscar / olé, olé, olá.  O recado está dado! 

(Por Vanessa Gonçalves) 

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sexta-feira, 20 de junho de 2014

Vila Euclides: o estádio dos trabalhadores

O Estádio Primeiro de Maio, de São Bernardo do Campo, antes conhecido como Vila Euclides, ficou nacionalmente conhecido no final da década de 1970 por ser palco das assembleias das greves dos metalúrgicos, chegando a levar mais de 150 mil pessoas para fazer política no espaço do futebol.

Lula no emblemático comício de Vila Euclides, em 1979

A partir da década de 30 do século XX, as políticas desenvolvimentistas de Getúlio Vargas transformaram São Paulo, mais especificamente a região metropolitana, no principal pólo econômico da América Latina. Isso acabou se fortalecendo no final dos anos 60 e início dos anos 70 com o “milagre econômico”.

Esse movimento econômico significou forte investimento na indústria automobilística e de construção civil. Em razão disso, no final da década de 70, havia cerca de 400 mil metalúrgicos empregados em mais de dez mil empresas na Grande São Paulo. Contudo, a alta dívida externa e a inflação impediam a melhoria da condição de vida desses operários. 

O coração da indústria nacional estava no ABC paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) e isso contribuiu para que, desde 1974, houvesse uma série de mobilizações por reajustes salariais, retomando o movimento sindical dos metalúrgicos, sufocado pelo regime militar.

A situação muda em 1978, quando Luís Inácio Lula da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, declara que “os patrões só escutariam a voz dos trabalhadores quando o barulho das máquinas cessassem”. Eclode a primeira greve operária.

No entanto, é durante a saída de Ernesto Geisel e a chegada do general João B. Figueiredo à presidência, em 1979, que mais de 50 mil metalúrgicos decidem entrar em greve e paralisar totalmente as linhas de produção.  Para surpresa dos militares, as reivindicações dos trabalhadores traziam novidades: além do reajuste salarial, pediam também a garantia de emprego e a presença de delegados sindicais no interior das empresas.

Em 13 de março de 1979, grandes empresas como a Ford e a Volks amanheceram paradas. Imediatamente espalhada para o interior do estado, em seu quarto dia a greve já contava com cerca de 170 mil trabalhadores de braços cruzados, mesmo com o movimento sendo considerado ilegal pelo regime.

É neste momento que o estádio Vila Euclides se transformou no palco das assembleias de operários das empresas Volkswagen, Mercedes, Ford, Metagal e Brastemp. Foi também neste local que os trabalhadores, liderados por Lula, recusaram a proposta do Ministério do Trabalho. 

No dia 1º de maio, mais de 150 mil operários foram em passeata até o estádio Vila Euclides. O fim da greve só aconteceu no dia 13 daquele mês, quando os trabalhadores concordaram com o aumento salarial de 63%.

A partir deste histórico de lutas e vitórias sindicais era de se esperar que o Estádio 1º de Maio um dos cenários mais expressivos do movimento, tivesse alguma importância ou significado para a cidade de São Bernardo e para os metalúrgicos. Afinal, foi palco de muitas decisões e manifestações relevantes para a classe. 

Apesar do marco histórico, não há no local um memorial sobre a luta sindical do fim da ditadura e início da redemocratização. Fica apenas a lembrança de que o público de mais de 150 mil pessoas não comemorou um gol neste estádio, mas uma vitória dos trabalhadores.

(Por Amanda Macedo)


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quarta-feira, 18 de junho de 2014

O acordo de Havelange e Videla

Muitos países eram contra a realização da Copa do Mundo na Argentina, em 1978. E não era sem motivos. As denúncias contra a ditadura de Jorge Videla assombravam o mundo pelos números de militantes de esquerda presos e desaparecidos.

João Havelange (segundo à esq.) ao lado de Jorge Videla na Copa de 1978

Na época, a Fifa já era dirigida por João Havelange e ficou indiferente ao clamor internacional. Uma intensa campanha de grupos de direitos humanos pressionou a entidade a não permitir a realização da Copa em um país nitidamente ditatorial.

Tratava-se do primeiro Mundial organizado pelo dirigente brasileiro, que acumulava cargo no Comitê Olímpico Internacional (COI) e havia deixado recentemente o comando da Confederação Brasileira de Desportos (CBD).
Com estreitas relações com o Fluminense, Havelange acabou exercendo um papel crucial para garantir a competição na Argentina a despeito das denúncias internacionais por vias políticas.

A embaixatriz Glorinha Paranaguá, após longas tentativas em libertar o filho e a nora, presos políticos na Argentina, acabou recorrendo ao cartola para tentar salvar a vida dos jovens. Filha de um dirigente do Fluminense, achava que a ligação do presidente da Fifa com o clube carioca poderia ser a luz no fim do túnel.

Em relato ao jornalista Lúcio de Castro, no documentário "Memórias do Chumbo", a ex-embaixatriz conta que Havelange procurou Videla e fez um acordo com o ditador argentino: se ele libertasse o casal brasileiro, garantiria a Copa no país.

E assim foi feito. O ditador soltou os militantes brasileiro e o Mundial ocorreu normalmente na Argentina. A poucos metros do principal estádio da Copa ficava um dos principais centros de tortura do país. Do cárcere, os presos políticos ouviam a torcida vibrando com os gols, enquanto ficavam livres das pancadas, choques e outros atos violências porque seus algozes acompanhavam os jogos.

Após a vitória da Argentina na final do Mundial, alguns presos políticos foram levados por seus algozes para as ruas para assistirem as festas do povo na rua. Ninguém imaginava que a vida daquelas pessoas corria risco e que Havelange havia garantido a continuidade do silêncio sobre aquela situação. A Copa continuava... E as torturas, mortes e desaparecimentos também.


(Por Vanessa Gonçalves)

***
Para saber mais sobre o assunto, leia o livro "Jogo Duro - A história de João Havelange", de Ernesto Rodrigues, assista ao documentário "Memórias do Chumbo - Argentina", de Lúcio de Castro, e "Conversa com JH", de Ernesto Rodrigues.









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terça-feira, 17 de junho de 2014

Maluf e os fuscas aos tricampeões


A conquista do tricampeonato na Copa de 70, causou uma comoção ufanista no Brasil. Em razão disso, várias homenagens foram realizadas aos ‘heróis da nação’, mas somente uma delas causa polêmica ainda hoje.

Rivellino e Pelé ao lado de Paulo Maluf na entrega dos famigerados fuscas

Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, distribuiu vinte e cinco fuscas verdes aos jogadores. Coqueluche automobilística da época, os valores atuais gastos no "presente" chegariam a R$ 600 mil. 

Quarenta anos depois, quase nada restou dos presentes. Apenas o ex-lateral Zé Maria, reserva de Carlos Alberto Torres, conservou as peças em outro fusca, um modelo 1967. 

As peças do carro de "SuperZé" sobreviveram após um acidente em seu irmão Tuta, ex-ponta da Ponte Preta e do Corinthians, capotou o veíxulo na Rodovia Anhanguera. “Fiquei uma fera. O carro estava novinho e meu irmão destruiu ele todo! Um mecânico de Limeira “transplantou” as peças para o Fusca 1967. Tô com ele até hoje, é opção para o rodízio. Não tem carro mais econômico.”

Nem todos os jogadores ficaram com o carro. Piazza, zagueiro improvisado na competição, ofereceu o seu como parte na compra de um posto de gasolina. Dadá Maravilha embolsou o valor do veículo em dinheiro em espécie. “Para que ficar com ele se eu tenho mais troféus do que glóbulos vermelhos e brancos juntos?”, zombou na época. O capitão Carlos Alberto Torres o manteve por cinco anos. “Eu não tinha como comprar um carro zero”, relembra.

A medida recebeu críticas de diversas entidades. No mesmo ano, o advogado Virgílio Egydio Lopes Enei entrou com ação popular que exigia a devolução do dinheiro aos cofres públicos. O Supremo Tribunal Federal acolheu o pedido. 

No entanto, a história se estendeu até 2006, quando Maluf foi inocentado pelo STF sob o argumento de que a Câmara de Vereadores da época havia permitido a doação.

O ex-prefeito comemorou a setença com uma declaração singular: “Dei um fusquinha para o Pelé, para o Rivellino, para o Tostão e até para o Leão. E o processado fui eu, e não quem recebeu os carros”. 

Esta foi uma das primeiras ações judiciais contra Maluf, que já respondeu a outros 150 processos criminais, boa parte por má gestão do dinheiro público. 

“Eu era jovem, não percebi, como perceberia depois, que era abuso de dinheiro público”, diz Tostão. O assunto ainda incomoda outros jogadores. “Na época em que Maluf deu os carros, ninguém questionou. Fizemos a alegria do país todo, depois disseram que a gente não merecia”, afirma Carlos Alberto.

 A questão é que independentemente do valor gasto, Paulo Maluf aproveitou-se da conquista do Tri para se fortalecer junto ao seu eleitorado na carona do sucesso de Pelé, Tostão e cia, tal qual seus aliados políticos do regime militar.


(Por Amanda Macedo)


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sábado, 14 de junho de 2014

Apartheid: o vilão do futebol na África do Sul


A Federação Internacional de Futebol (Fifa) é tão importante quanto a Organização das Nações Unidas (ONU) nas questões políticas mundo afora. Não é à toa que a entidade de futebol tem mais membros que a outra.

Mandela comemora Copa na África do Sul, em 2010

Isso ocorre porque a Fifa – por interesses políticos – reconhece a independência de alguns territórios que, geralmente, são aceitos posteriormente pela ONU.

Por vezes, esse papel político da entidade máxima do futebol funcionou como um bom exemplo de repúdio às políticas segregatórias de algumas nações. Um dos exemplos mais importantes deste contexto foi a suspensão da seleção da África do Sul após a implantação do regime de segregação racial, conhecido apartheid.
                   
A política antirracista da Fifa, reforçada a partir de 1961, garantiu a suspensão da África do Sul de competições internacionais. Afinal, o país enfrentava um momento delicado com o banimento do Congresso Nacional Africano (CNA) e a morte de 69 negros durante um protesto em Sharperville, no ano anterior.
 
O estudante Hector Peterson, assassinado aos 13 anos, virou símbolo da luta contra apartheid
                   
Em 1962, as Nações Unidas também condenaram o apartheid e pediram aos países-membros que cortassem relações diplomáticas com a África do Sul. Dois anos depois, o principal líder político do movimento, Nelson Mandela,  foi condenado à prisão perpétua, ficando preso por 27 anos e só deixando a cadeia com o fim do regime segregacionista e tornando-se o primeiro presidente negro do país.

Apesar das sanções, a seleção sul-africana só foi excluída oficialmente dos quadros da Fifa em 1976, após o massacre aos estudantes de Soweto, que se manifestavam contra a obrigatoriedade de estudar a língua dos brancos – o afrikâner. Reprimido pela polícia, o movimento resultou em 100 mortes em todo o país.
                   
Somente com do fim do apartheid, em 1991, e a adoção de uma seleção multicultural, o país foi reintegrado à entidade, reestreando em partidas oficiais em 1992.

A força dos sul-africanos nos gramados ficou comprovada quando a equipe venceu, quatro anos depois, a Copa Africana das Nações.
                   
No entanto, a maior vitória contra o racismo ocorreu quando a África do Sul sediou o Mundial, tendo Nelson Mandela como personalidade ovacionada pelo público no evento final. Como ninguém, o líder soube como usar o poder do esporte para reforçar a união de seu povo.
                   
Assista ao vídeo:




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