Desde o
golpe de 1964, o projeto dos militares era transformar o Brasil numa potência e
o futebol era um dos caminhos para atingir este objetivo, ainda mais após o
bicampeonato de 1958 e 1962.
Atletas dos principais times do Brasil foram convocados |
De acordo
com o jornalista Marcos Gutterman, no livro "O futebol explica o Brasil", "àquela altura, havia plena convicção
de que o Brasil, esse gigante que agora estava em “boas mãos” podia ser
conduzido ao Primeiro Mundo – já que tinha o melhor futebol do planeta, para
começar”.
Assim, na
primeira Copa com os militares no poder, em 1966, o Brasil pintava como
favorito ao título. O otimismo com relação a mais uma conquista tinha razão de
ser, uma vez que a Seleção nunca perdera um jogo com Garrincha e Pelé em
campo.
Porém,
diferente dos outros Mundiais em que se sagrou campeão, o Brasil não contou com
uma preparação adequada e a crise política entre dirigentes contribuiu para seu
fracasso.
Preparação com intromissão política prejudicou o Brasil em 1966 |
A disputa
pelo poder em torno do escrete se dividiu entre João Havelange, presidente da
Confederação Brasileira de Desportos (CBD), e Paulo Machado de Carvalho, dirigente poderoso do futebol paulista. O primeiro, em plena campanha à
presidência da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o segundo com a
imagem de "Marechal da Vitória", apelido que ganhou após o excelente trabalho
como chefe das delegações campeãs de 1958 e 1962.
Na queda
de braço sobre quem deveria ser o técnico da equipe que iria disputar a Copa,
Havelange saiu vencedor e manteve Vicente Feola como treinador. Paula Machado
de Carvalho defendia que o cargo fosse dividido entre Feola e Aymoré Moreira.
Sem resolver o impasse, cada um foi para um lado.
O fato é
que após a saída de Paulo Machado de Carvalho da comissão técnica, a equipe
passava por um momento de oba-oba e de interferências extra-campo. Sem surpresa
alguma, Havelange foi nomeado chefe da delegação em 8 de março de 1966.
Gutterman
ressalta que a influência do poder político na seleção brasileira, a partir de
1966, era um caminho sem volta, uma vez que a equipe representava a “pátria em
chuteiras”. E o resultado dessa
interferência foi desastroso.
"A seleção não era mais uma simples representação
esportiva nacional; ela era a essência brasileira, sua expressão
de força, capaz de gerar orgulho patriótico e nacionalista. No momento em que o
Brasil mergulhava nas trevas institucionais, e os militares viviam uma guerra
intestina para saber que rumo dar ao golpe que haviam perpetrado em 1964, o
futebol consolidava-se como instrumento
óbvio dos interesses dentro da malha de poder”
Com uma
política nacional-desenvolvimentista, o regime militar se apoiava no
nacionalismo como um dos pilares de sua agenda de governo. Para isso, precisava
convencer o povo brasileiro de que o País estava em pleno crescimento.
Apoiando-se
no poder dos militares, o chefe da delegação brasileira permitiu o absurdo da
convocação de 45 jogadores para a fase de preparação para a Copa
(Goleiros: Gilmar, Fabio, Valdir, Ubirajara e Manga. Zagueiros: Carlos Alberto, Djalma
Santos, Fidélis, Murilo, Bellini, Djalma Dias, Brito e Ditão. Meias: Pelé, Zito, Dino, Dudu,
Denílson, Dias, Orlando, Leônidas, Fontana, Altair, Edson, Rildo, Paulo Henrique,
Oldair, Gerson, Silva, Célio, Parada, Fefeu e Lima. Pontas: Garrincha, Jairzinho, Paulo Borges, Nado, Paraná, Edu,
Rinaldo e Ivair. Centroavantes: Flavio,
Servilio, Alcindo e Tostão).
Na lista,
havia representantes dos principais times brasileiros, como uma forma de
mostrar que a seleção era representada por todos os interesses políticos em
jogo naquele período da ditadura.
No
período de preparação em Lambari e Caxambu, interior de Minas Gerais, treinavam
quatro equipes: vermelha, verde, branca e amarela. Sem definição dos jogadores
que iriam para a Copa, a equipes excursionavam Brasil afora, aderindo à tal
integração nacional do regime militar.
A vontade
de agradar aos militares e seus poderes locais era tamanha que 32 jogadores
viajaram rumo à Copa da Inglaterra sem saber quais seria os dez cortados. O
fato é que a lista final foi fechada já às vésperas do início da competição e
de forma traumática, como contou Pelé na biografia de João Havelange.
A crise
na seleção era tão profunda que Vicente Feola e o supervisor Carlos Nascimento
não se entendiam e os jogadores, insatisfeitos como a chefia de Havelange,
mandavam cartas a Paulo Machado de Carvalho pedindo seu retorno.
O resultado da intromissão da política na seleção
não poderia ser outro, que não um fiasco dentro de campo. O escrete canarinho fez uma campanha
tão fraca quanto a do vexame histórico de 1934, quando o País não passou da
primeira fase. Na estreia. bateu a Bulgária por 2 a zero, na última partida de
Pelé e Garrincha juntos. Depois perdeu por 3 a 1 para a Hungria e acabou sendo
eliminada por Portugal, após um sonoro e traumático 3 a 1.
O
desastre na Copa da Inglaterra serviu de lição. Havelange e os militares não
cometeriam o mesmo erro no próximo Mundia;. Mas esta, é uma outra história.
(Por Vanessa Gonçalves)
***
Para saber mais sobre o assunto, leia os livros "O futebol explica
o Brasil", de Marcos Gutterman; "Jogo Duro", de Ernesto
Rodrigues e "O Marechal da Vitória", de Tom Cardoso e
Roberto.Rockman.
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