sexta-feira, 20 de junho de 2014

Vila Euclides: o estádio dos trabalhadores

O Estádio Primeiro de Maio, de São Bernardo do Campo, antes conhecido como Vila Euclides, ficou nacionalmente conhecido no final da década de 1970 por ser palco das assembleias das greves dos metalúrgicos, chegando a levar mais de 150 mil pessoas para fazer política no espaço do futebol.

Lula no emblemático comício de Vila Euclides, em 1979

A partir da década de 30 do século XX, as políticas desenvolvimentistas de Getúlio Vargas transformaram São Paulo, mais especificamente a região metropolitana, no principal pólo econômico da América Latina. Isso acabou se fortalecendo no final dos anos 60 e início dos anos 70 com o “milagre econômico”.

Esse movimento econômico significou forte investimento na indústria automobilística e de construção civil. Em razão disso, no final da década de 70, havia cerca de 400 mil metalúrgicos empregados em mais de dez mil empresas na Grande São Paulo. Contudo, a alta dívida externa e a inflação impediam a melhoria da condição de vida desses operários. 

O coração da indústria nacional estava no ABC paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) e isso contribuiu para que, desde 1974, houvesse uma série de mobilizações por reajustes salariais, retomando o movimento sindical dos metalúrgicos, sufocado pelo regime militar.

A situação muda em 1978, quando Luís Inácio Lula da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, declara que “os patrões só escutariam a voz dos trabalhadores quando o barulho das máquinas cessassem”. Eclode a primeira greve operária.

No entanto, é durante a saída de Ernesto Geisel e a chegada do general João B. Figueiredo à presidência, em 1979, que mais de 50 mil metalúrgicos decidem entrar em greve e paralisar totalmente as linhas de produção.  Para surpresa dos militares, as reivindicações dos trabalhadores traziam novidades: além do reajuste salarial, pediam também a garantia de emprego e a presença de delegados sindicais no interior das empresas.

Em 13 de março de 1979, grandes empresas como a Ford e a Volks amanheceram paradas. Imediatamente espalhada para o interior do estado, em seu quarto dia a greve já contava com cerca de 170 mil trabalhadores de braços cruzados, mesmo com o movimento sendo considerado ilegal pelo regime.

É neste momento que o estádio Vila Euclides se transformou no palco das assembleias de operários das empresas Volkswagen, Mercedes, Ford, Metagal e Brastemp. Foi também neste local que os trabalhadores, liderados por Lula, recusaram a proposta do Ministério do Trabalho. 

No dia 1º de maio, mais de 150 mil operários foram em passeata até o estádio Vila Euclides. O fim da greve só aconteceu no dia 13 daquele mês, quando os trabalhadores concordaram com o aumento salarial de 63%.

A partir deste histórico de lutas e vitórias sindicais era de se esperar que o Estádio 1º de Maio um dos cenários mais expressivos do movimento, tivesse alguma importância ou significado para a cidade de São Bernardo e para os metalúrgicos. Afinal, foi palco de muitas decisões e manifestações relevantes para a classe. 

Apesar do marco histórico, não há no local um memorial sobre a luta sindical do fim da ditadura e início da redemocratização. Fica apenas a lembrança de que o público de mais de 150 mil pessoas não comemorou um gol neste estádio, mas uma vitória dos trabalhadores.

(Por Amanda Macedo)


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