O Estádio
Primeiro de Maio, de São Bernardo do Campo, antes conhecido como Vila Euclides,
ficou nacionalmente conhecido no final da década de 1970 por ser palco das
assembleias das greves dos metalúrgicos, chegando a levar mais de 150 mil
pessoas para fazer política no espaço do futebol.
Lula no emblemático comício de Vila Euclides, em 1979 |
A partir
da década de 30 do século XX, as políticas desenvolvimentistas de Getúlio
Vargas transformaram São Paulo, mais especificamente a região metropolitana, no
principal pólo econômico da América Latina. Isso acabou se fortalecendo no
final dos anos 60 e início dos anos 70 com o “milagre econômico”.
Esse
movimento econômico significou forte investimento na indústria automobilística
e de construção civil. Em razão disso, no final da década de 70, havia cerca de
400 mil metalúrgicos empregados em mais de dez mil empresas na Grande São
Paulo. Contudo, a alta dívida externa e a inflação impediam a melhoria da condição
de vida desses operários.
O coração
da indústria nacional estava no ABC paulista (Santo André, São Bernardo do
Campo e São Caetano do Sul) e isso contribuiu para que, desde 1974, houvesse
uma série de mobilizações por reajustes salariais, retomando o movimento
sindical dos metalúrgicos, sufocado pelo regime militar.
A situação
muda em 1978, quando Luís Inácio Lula da Silva, presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo, declara que “os patrões só escutariam a voz dos
trabalhadores quando o barulho das máquinas cessassem”. Eclode a primeira greve
operária.
No
entanto, é durante a saída de Ernesto Geisel e a chegada do general João B.
Figueiredo à presidência, em 1979, que mais de 50 mil metalúrgicos decidem
entrar em greve e paralisar totalmente as linhas de produção. Para
surpresa dos militares, as reivindicações dos trabalhadores traziam novidades:
além do reajuste salarial, pediam também a garantia de emprego e a presença de
delegados sindicais no interior das empresas.
Em 13 de
março de 1979, grandes empresas como a Ford e a Volks amanheceram paradas.
Imediatamente espalhada para o interior do estado, em seu quarto dia a greve já
contava com cerca de 170 mil trabalhadores de braços cruzados, mesmo com o
movimento sendo considerado ilegal pelo regime.
É neste
momento que o estádio Vila Euclides se transformou no palco das assembleias de
operários das empresas Volkswagen, Mercedes, Ford, Metagal e Brastemp. Foi
também neste local que os trabalhadores, liderados por Lula, recusaram a
proposta do Ministério do Trabalho.
No dia 1º
de maio, mais de 150 mil operários foram em passeata até o estádio Vila
Euclides. O fim da greve só aconteceu no dia 13 daquele mês, quando os
trabalhadores concordaram com o aumento salarial de 63%.
A partir
deste histórico de lutas e vitórias sindicais era de se esperar que o Estádio
1º de Maio um dos cenários mais expressivos do movimento, tivesse alguma
importância ou significado para a cidade de São Bernardo e para os
metalúrgicos. Afinal, foi palco de muitas decisões e manifestações relevantes
para a classe.
Apesar do
marco histórico, não há no local um memorial sobre a luta sindical do fim da
ditadura e início da redemocratização. Fica apenas a
lembrança de que o público de mais de 150 mil pessoas não comemorou um gol
neste estádio, mas uma vitória dos trabalhadores.
(Por
Amanda Macedo)
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