Em julho de 1914, muitos acreditaram que a Primeira Guerra Mundial não seria uma batalha duradoura. Assim, os esportes continuaram a ser
disputados normalmente, pois acreditava-se que as tropas militares voltariam aos seus países
antes do Natal. No entanto, a realidade das trincheiras fez com que as partidas
de futebol só fossem disputadas por mais algumas rodadas nas competições oficiais.
Soldados alemães e ingleses disputam partida em campo neutro durante a Primeira Guerra |
No Natal de 1914 a esperança de paz se renovou quando, em plena
Grande Guerra, soldados alemães e ingleses se confraternizaram jogando uma
partida de futebol no espaço entre as trincheiras, na chamada
“terra de ninguém”, o campo neutro entre as fortificações inimigas. Os soldados
rivais se uniram no jogo e trocaram cigarros, chocolates e bebidas, em uma
trégua que gerou insubordinação dos comandados perante seus comandantes. Mais
do que mostrar que os inimigos não eram tão hostis como o anunciado, a partida
representou a inquietação quanto ao real sentido da guerra.
Com o prolongamento do conflito, porém, alguns esportes sofreram pressão, principalmente
na Inglaterra, onde se cobrou o alistamento de jogadores de futebol para engrossar as fileiras do Exército. Os ingleses souberam utilizar como ninguém o futebol durante a guerra,
com o Ministério da Guerra aproveitando-se do esporte para contribuir
com o projeto de integração nacional, promovendo o governo a partir do sentimento nacionalista gerado dentro dos gramados.
Para obter resultados positivos, o Ministério de Guerra inglês promoveu várias alterações, como a mudança de horário das partidas de futebol para que não coincidissem com o turno de
trabalho das fábricas, alocando nos estádios postos de alistamento para
incentivar trabalhadores fabris a entraram para o Exército. Nesse contexto,
surgiram os primeiros times de tropas, formados por equipes de batalhões que excursionaram
durante a guerra por todo o país, fazendo partidas de exibição que cativaram a
simpatia da população. O slogan
dessas partidas era “Jogue o Grande Jogo e se aliste no Batalhão do Futebol”. O lema acabou por conquistar um bom número de voluntários para o combate.
A Inglaterra então entrou para a história como um dos primeiros Estados a utilizar o futebol para promover o próprio país e o governo. Com o fim da Grande Guerra, em 1918, os times de tropas pararam de excursionar dentro do País, mas não acabaram. Anos depois, ocorreram outras partidas envolvendo as equipes de batalhões ingleses.
(por Thomaz Lemmi)
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Para saber mais sobre o assunto, leia o livro "Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional", de
Gilberto Agostino.
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