quinta-feira, 22 de maio de 2014

A política derrotou a Seleção de Ouro

A chamada Seleção de Ouro da Hungria passou para a história como o time imbatível que ficou 32 partidas consecutivas sem perder nos primeiros anos da década de 1950. 

Em pé: Lorant, Buzansky, Hidegkuti, Kocsis, Zakarias, Czibor, Boszik e Budai
Agachados: Lantos, Puskás e Grocsis.

Após tornar-se campeã olímpica de 1952, nos Jogos de Helsinque, na Finlândia, o esquete húngaro ainda teve o grande feito de ser a primeira seleção não-britânica a derrotar os ingleses no estádio Wembley. Em 1953, a seleção húngara goleou a Inglaterra por 6x3 na partida que ficou conhecida como “Jogo do Século”. 

Na revanche, os húngaros despedaçaram os ingleses com um 7x1 em Budapeste. Esta seleção ainda conseguiria uma nova série invicta com 18 jogos, sendo também a primeira equipe a vencer a URSS em seu próprio território.

O que levou ao fim do grande esquete - liderado por um dos maiores atletas da história do futebol, Ferenc Puskás - foi a agitação política pelo qual o país passou nos anos de 1954 a 1956. A derrota húngara por 3x2 para a Alemanha Ocidental na final da Copa do Mundo de 1954 não só levou ao desmonte da equipe, como também deflagrou um levante popular contra a ditadura comunista no país. 

Na volta à Hungria, os jogadores se depararam com uma enorme tensão nas ruas, com manifestações espontâneas acontecendo por todo o país, principalmente na capital. Iniciados por estudantes, os protestos tomaram conta de todo o território logo após a perda do título da Copa, dado como certo pelo governo húngaro. O fracasso no Mundial gerou revoltas contra o regime ditatorial comunista apoiado pela União Soviética.

 
Puskás cumprimenta o capitão alemão na final da Copa de 1954
O goleiro Grocsis, que tinha postura mais crítica ao regime, foi preso meses após voltar da Copa, acusado de espionagem e traição pelo governo comunista. Cerca de 15 meses depois, foi libertado por falta de provas. 

Nesses período, os distúrbios deflagrados pela derrota da seleção nacional funcionaram como um ensaio geral do movimento que se tornaria conhecido como a Revolução Húngara de 1956. 

As manifestações se transformaram em um levante popular que, após um ano e meio de revoltas, levou à queda do ditador stalinista Matyas Rakosi em 23 de outubro daquele ano. Entretanto, em 10 de novembro, a revolta foi reprimida por tropas soviéticas que invadiram o país e retomaram o controle. 

Antes da invasão das tropas soviéticas, os jogadores do Honvéd, base da Seleção de Ouro e equipe ligada ao Exército húngaro, estavam excursionando pela América do Sul. Quando o país voltou ao controle da URSS, foi exigido que os jogadores retornassem ao país. 

Mas, contra as perseguições políticas, eles se recusaram a voltar, estendendo ainda mais a excursão, o que levou aos soviéticos a proibirem alguns dos atletas a pisarem no solo húngaro, forçando-os ao exílio.

O técnico Bela Guttman, um dos maiores de toda a história, grande vencedor e inovador das táticas no futebol, estava na excursão e ficou no Brasil, onde se tornou técnico do São Paulo. 

Quanto aos jogadores, o time que havia vencido a Liga Húngara quatro vezes na década de 1950, sofreu um desmanche pelas ofertas de times espanhóis e italianos. Apesar de muitos atletas pretenderem voltar, mesmo proibidos de voltar à Hungria, foram informados de que seriam “severamente punidos” pelo prolongamento não autorizado da excursão, fazendo com que quase todos eles, como Zoltán Czibor, Sándor Kocsis, Grocsis e Ferenc Puskás, acertassem com times da Europa Ocidental e nunca mais voltassem a jogar pela Hungria. 

Ferenc Puskás, um dos ídolos daquele escrete imbatível, que foi um dos proibidos a voltar ao país. Acabou se naturalizando cidadão espanhol e chegando, inclusive, a jogar algumas poucas partidas pela "Fúria".


(por Thomaz Lemmi)



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