quinta-feira, 15 de maio de 2014

O militante salvo pelo técnico do Botafogo


O jornalista Álvaro Caldas conciliava a vida de militante de esquerda com a de setorista do Botafogo para o “Jornal dos Sports” em 1973. 

Contrário à ditadura militar, Álvaro participou de passeatas e manifestações contra o regime de exceção e se filiou ao PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), uma dissidência do PCB. No dia 30 de março de 1973, já vigiado pelos órgãos de repressão, teve a sua casa invadida por integrantes do Exército que o prenderam sob a acusação de ter ido a uma manifestação contra o regime em outro estado.

Álvaro Caldas com rosto marcado pela tortura

O setorista do Botafogo defendeu-se, dizendo que, no dia em que a tal manifestação ocorrera, estava cobrindo um treino do time carioca, inclusive se encontrando com o técnico Sebastião Leônidas e os jogadores Jairzinho e Marinho. 

Afirmando veementemente que não havia viajado a outro estado naquela data e que os militares poderiam ir até o estádio de General Severiano e perguntar ao elenco do Botafogo se ele não estava lá naquele dia. Dessa forma, os militares poderiam confirmar se a história era verdadeira.

Álvaro Caldas contou sua história em livro


Para confirmar o fato, os militares resolveram ir à paisana ao estádio e conversar com Sebastião Leônidas. Sem saber que o jornalista estava preso, o treinador alvinegro confirmou que Álvaro Caldas fazia a cobertura do time e estava presente todos os dias em General Severiano, sempre entrevistando os jogadores.

Sem saber, Leônidas acabou salvando Álvaro Caldas nesta oportunidade. Mas o jornalista acabaria sendo preso clandestinamente logo depois, ficando cerca de setenta dias totalmente incomunicável e sofrendo torturas no DOI-Codi do Rio de Janeiro. 

Ele ainda foi preso ainda mais uma vez. Ao ser libertado, escreveu um livro sobre o seu caso, sendo um dos primeiros a revelar publicamente os nomes de seus torturadores. 

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