O jornalista Álvaro Caldas conciliava a vida de militante de esquerda com a de setorista do Botafogo para o “Jornal dos Sports” em 1973.
Contrário à ditadura militar, Álvaro participou de passeatas e manifestações contra o regime de exceção e se filiou ao PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), uma dissidência do PCB. No dia 30 de março de 1973, já vigiado pelos órgãos de repressão, teve a sua casa invadida por integrantes do Exército que o prenderam sob a acusação de ter ido a uma manifestação contra o regime em outro estado.
Álvaro Caldas com rosto marcado pela tortura |
O setorista do Botafogo defendeu-se, dizendo que, no dia em que a tal manifestação ocorrera, estava cobrindo um treino do time carioca, inclusive se encontrando com o técnico Sebastião Leônidas e os jogadores Jairzinho e Marinho.
Afirmando veementemente que não havia viajado a outro estado naquela data e que os militares poderiam ir até o estádio de General Severiano e perguntar ao elenco do Botafogo se ele não estava lá naquele dia. Dessa forma, os militares poderiam confirmar se a história era verdadeira.
Álvaro Caldas contou sua história em livro |
Para confirmar o fato, os militares resolveram ir à paisana ao estádio e conversar com Sebastião Leônidas. Sem saber que o jornalista estava preso, o treinador alvinegro confirmou que Álvaro Caldas fazia a cobertura do time e estava presente todos os dias em General Severiano, sempre entrevistando os jogadores.
Sem saber, Leônidas acabou salvando Álvaro Caldas nesta oportunidade. Mas o jornalista acabaria sendo preso clandestinamente logo depois, ficando cerca de setenta dias totalmente incomunicável e sofrendo torturas no DOI-Codi do Rio de Janeiro.
Ele ainda foi preso ainda mais uma vez. Ao ser libertado, escreveu um livro sobre o seu caso, sendo um dos primeiros a revelar publicamente os nomes de seus torturadores.
(por Thomaz Lemmi)
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Para saber mais sobre o assunto, leia o livro "Tirando o capuz", de Álvaro Caldas.
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