O século XIX na Europa foi marcado pela proliferação do imperialismo.
No entanto, na Espanha é nesse período que emergem as contradições entre o
centro e a periferia do capitalismo. Como o país não participou efetivamente do
processo de industrialização, havia um descontentamento evidente da burguesia.
Franco tentou minar o poder do Barcelona |
A monarquia latente e o poder clerical que se instauravam na
época, abafaram qualquer tentativa de uma indústria vigorosa. Foi nesse contexto sócio-político pautado
pelas contradições que os principais clubes espanhóis — Real Madrid e Barcelona
— passaram a coexistir.
Segundo o jornalista Alfredo Relaño, o Real Madrid e Barcelona
assumiram, desde o início, mais ou menos conscientemente, uma responsabilidade
de representativamente: de um lado a Espanha e do outro a Catalunha.
Neste cenário de heranças aristocratas e supressão de
liberdade, o ditador Primo de Rivera ao assumir o poder, obrigada a remodelação
do escudo do Barcelona e proíbe o uso do catalão como língua oficial.
O advento da Guerra Civil Espanhola (1936 e 1939) dividiu
ideologicamente o país ao meio e custou, segundo estimativas, a vida de quase
um milhão de pessoas. Tudo começou após um golpe militar contra o presidente
socialista Francisco Largo Caballero. Durante todo este período, ambas as
partes — os republicanos de um lado, leais ao governo espanhol, e os
monarquistas e direitistas revoltosos de outro —, contaram com apoio
internacional e solidariedade política e material de suas correntes de adesão.
Equipe do Barcelona na temporada 1935-1936 |
A Catalunha concentrava um forte movimento anarquista, com
sindicatos bem estruturados e lutando por um regime socialista. Os setores
urbanos da classe média defendiam um programa nacional no País Basco,
semelhante a um programa democrático liberal.
O desfecho do conflito não poderia ser pior: a ascensão de
um governo ditatorial com fortes traços fascistas que perdurou por vinte anos. Neste
período, o Barcelona passa a ser alvo do regime franquista.
O repúdio que Franco nutria em relação ao Barcelona ia além
da questão da Catalunha como cidade-chave de resistência ao regime. Embora partes
da cidade recebessem Franco de braços abertos, muitos de seus moradores
desenvolveram uma guerra urbana com um apetite voraz a fim de derrubar os
franquistas.
Mas havia outra razão, igualmente relevante para esse ódio
latente: Franco era obcecado pelo rival Real Madrid. Coincidentemente, a TV
estatal reservava ao clube um espaço muito maior em relação a outros clubes.
Franco levou sua vingança pessoal contra o Barça às últimas
consequências, como relata Manuel Vasquez Montalbán: "As tropas de
ocupação de Franco entraram na cidade. A quarta organização a ser expurgada,
depois de comunistas, anarquistas e separatistas, era o Barcelona Football Club".
Em 1936, uma milícia de Franco prendeu e executou o
presidente do Barcelona, Josep Sunyol, de orientação esquerdista, quando ele passava
de carro pelas colinas de Guadarrama em visita aos soldados catalães que
defendiam Madri, cercada por tropas de direita. Não bastasse isso, quando os
soldados do general realizaram um ataque final para conquistar a insubordinada
Catalunha, bombardearam o prédio que abrigava os troféus do Barça.
Para controlar a transformação ideológica do clube, o regime
impôs um novo presidente que, durante a guerra civil, fora capitão da
"Divisão Antimarxista" da guarda civil. No Barcelona, ele mantinha
cuidadosamente fichas policiais de todas as pessoas envolvidas com o clube, de
modo a poder intervir quaisquer diretores que ratificassem simpatias
nacionalistas.
A partir de 1939, o Barcelona foi obrigado a excluir alguns
elementos que faziam referências à Catalunha de seu escudo. Sendo assim, no
lugar das faixas que lembram a senyera, passaram a ser usadas faixas que
remetem à bandeira da Espanha (com menos listras). Além disso, o clube foi
obrigado a mudar o nome.
Não por acaso, o clube catalão passa a conquistar
pouquíssimos títulos durante o regime franquista, enquanto o Real Madrid
alcança o auge levantando as principais taças no País e na Europa.
A perseguição ao Barcelona só diminui a partir de 1973, quando
o regime estava enfraquecido, Franco prestes a morrer e o time adotou lema "més
que un club" (“mais que um clube”, em tradução literal), reforçando
sua ligação com a identidade catalã.
(Por Amanda Macedo)
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