quarta-feira, 14 de maio de 2014

Barcelona sofreu nas mãos de Franco

O século XIX na Europa foi marcado pela proliferação do imperialismo. No entanto, na Espanha é nesse período que emergem as contradições entre o centro e a periferia do capitalismo. Como o país não participou efetivamente do processo de industrialização, havia um descontentamento evidente da burguesia.

Franco tentou minar o poder do Barcelona

A monarquia latente e o poder clerical que se instauravam na época, abafaram qualquer tentativa de uma indústria vigorosa.  Foi nesse contexto sócio-político pautado pelas contradições que os principais clubes espanhóis — Real Madrid e Barcelona — passaram a coexistir.

Segundo o jornalista Alfredo Relaño, o Real Madrid e Barcelona assumiram, desde o início, mais ou menos conscientemente, uma responsabilidade de representativamente: de um lado a Espanha e do outro a Catalunha.

Neste cenário de heranças aristocratas e supressão de liberdade, o ditador Primo de Rivera ao assumir o poder, obrigada a remodelação do escudo do Barcelona e proíbe o uso do catalão como língua oficial.

O advento da Guerra Civil Espanhola (1936 e 1939) dividiu ideologicamente o país ao meio e custou, segundo estimativas, a vida de quase um milhão de pessoas. Tudo começou após um golpe militar contra o presidente socialista Francisco Largo Caballero. Durante todo este período, ambas as partes — os republicanos de um lado, leais ao governo espanhol, e os monarquistas e direitistas revoltosos de outro —, contaram com apoio internacional e solidariedade política e material de suas correntes de adesão.

Equipe do Barcelona na temporada 1935-1936

A Catalunha concentrava um forte movimento anarquista, com sindicatos bem estruturados e lutando por um regime socialista. Os setores urbanos da classe média defendiam um programa nacional no País Basco, semelhante a um programa democrático liberal.

O desfecho do conflito não poderia ser pior: a ascensão de um governo ditatorial com fortes traços fascistas que perdurou por vinte anos. Neste período, o Barcelona passa a ser alvo do regime franquista.

O repúdio que Franco nutria em relação ao Barcelona ia além da questão da Catalunha como cidade-chave de resistência ao regime. Embora partes da cidade recebessem Franco de braços abertos, muitos de seus moradores desenvolveram uma guerra urbana com um apetite voraz a fim de derrubar os franquistas. 

Mas havia outra razão, igualmente relevante para esse ódio latente: Franco era obcecado pelo rival Real Madrid. Coincidentemente, a TV estatal reservava ao clube um espaço muito maior em relação a outros clubes.

Franco levou sua vingança pessoal contra o Barça às últimas consequências, como relata Manuel Vasquez Montalbán: "As tropas de ocupação de Franco entraram na cidade. A quarta organização a ser expurgada, depois de comunistas, anarquistas e separatistas, era o Barcelona Football Club".

Em 1936, uma milícia de Franco prendeu e executou o presidente do Barcelona, Josep Sunyol, de orientação esquerdista, quando ele passava de carro pelas colinas de Guadarrama em visita aos soldados catalães que defendiam Madri, cercada por tropas de direita. Não bastasse isso, quando os soldados do general realizaram um ataque final para conquistar a insubordinada Catalunha, bombardearam o prédio que abrigava os troféus do Barça.

Para controlar a transformação ideológica do clube, o regime impôs um novo presidente que, durante a guerra civil, fora capitão da "Divisão Antimarxista" da guarda civil. No Barcelona, ele mantinha cuidadosamente fichas policiais de todas as pessoas envolvidas com o clube, de modo a poder intervir quaisquer diretores que ratificassem simpatias nacionalistas.

A partir de 1939, o Barcelona foi obrigado a excluir alguns elementos que faziam referências à Catalunha de seu escudo. Sendo assim, no lugar das faixas que lembram a senyera, passaram a ser usadas faixas que remetem à bandeira da Espanha (com menos listras). Além disso, o clube foi obrigado a mudar o nome.

Não por acaso, o clube catalão passa a conquistar pouquíssimos títulos durante o regime franquista, enquanto o Real Madrid alcança o auge levantando as principais taças no País e na Europa.


A perseguição ao Barcelona só diminui a partir de 1973, quando o regime estava enfraquecido, Franco prestes a morrer e o time adotou lema "més que un club" (“mais que um clube”, em tradução literal), reforçando sua ligação com a identidade catalã.

(Por Amanda Macedo)


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