domingo, 29 de junho de 2014

Depoimento: Joel Rufino


"Essa minha passagem de jogador profissional é interessante para mostrar que o exilado se virava"

O historiador, professor e escritor Joel Rufino dos Santos foi um dos intelectuais que precisou se exilar assim que os militares deram o golpe no Brasil em 1964. Nesse período, precisou arrumar uma forma de sobreviver na Bolívia, primeira parada do exílio de um ano e meio. A solução: jogar futebol.

Joel Rufino dos Santos

Com a ajuda de outro brasileiro, Rufino chegou ao Bolívar, importante equipe profissional de La Paz, atuou como jogador durante três meses. O clube pagava o hotel e garantia um ordenado para que pudesse se sustentar nesses tempos difíceis.

No depoimento para o documentário da exposição "Política F. C. - o futebol na ditadura", que pode ser assistido na mostra, ele conta suas peripécias no gramado e a visita de João Saldanha.

"Em 1964, eu fui exilado para Bolívia e Chile. Imediatamente ao golpe eu me exilei. Bom, quem estava no exílio e era pobre se virava. Quem tinha grana, recebia grana do Brasil, dos parentes. Eu, como alguns outros, me virei. Por exemplo, [Gianfrancesco] Guarnieri e Juca [de Oliveira] saíam toda manhã com uma mala para vender roupa usada. Faziam camelagem. E eu saía para o treino do Bolívar. 

O técnico era também um brasileiro exilado, Vinícius Ruas, então ele me deu meu um lugar no time. Eu fiquei à espera de um contrato por três meses, enquanto isso eles pagavam meu hotel, me davam lá uns 50 dólares por semana e o contrato não saiu porque fui embora para o Chile.

Essa minha passagem de jogador profissional é interessante para mostrar que o exilado se virava, do jeito que fosse. Eu sabia mais como jogar bola do que jogava propriamente. Tem uma sutileza.

Eu estava nesse Bolívar e o Botafogo foi jogar em La Paz e o [João] Saldanha quis saber como jogava o time do Bolívar, quem jogava etc. E alguém informou para ele: "–Ah, tem um neguinho lá que se ele for escalado ele organiza o time". E ele disse: " – Quem é esse neguinho?". Responderam: "– É o Joel Rufino". Aí ele disse: "– Ah, Joelzinho? Joelzinho é do nosso partido. Aquilo não vai dar trabalho nenhum!"".




(Por Vanessa Gonçalves)


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