sexta-feira, 6 de junho de 2014

A luta clandestina de Gaúcho

Pouca gente sabe, mas o ex-meia e técnico Carlos Roberto Orrigo da Cunha, o Gaúcho, tem uma ligação com o passado da ditadura no Brasil. Em 1964, quando tinha apenas 11 anos, seu pai, Augusto Losada, foi preso político por fazer parte de um grupo sindicalista chamado União Operária.

Gaúcho visitava os familiares presos por motivos políticos

Além disso, dois de seus tios – Antônio e José – se engajaram na lutar armada e foram companheiros da presidente Dilma Rousseff na Varguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) durante os anos de chumbo.

A família Losada herdou dos ancestrais espanhóis a tradição no envolvimento com a política. Em entrevista ao O Globo, Gaúcho declarou: “Somos uma família de proletários que gostam de futebol".

Em 1970, auge da repressão militar, Carlos Roberto tinha apenas 14 anos e precisou se dividir entre os treinos na base do Grêmio e o trabalho como tecelão. Todos os homens da família estavam presos devido ao envolvimento com a luta contra a ditadura e ele precisava ajudar em casa.

No ano seguinte, com a carreira de jogador deslanchando, Gaúcho se transferiu para o Vasco da Gama. Durante o período em que esteve no clube carioca, não deixou de visitar os parentes no presídio. Mas, para evitar maiores problemas, organizava uma verdadeira "operação de guerra" para que ninguém soubesse dessa ligação da família com a luta política, temendo que ao atuar por um clube grande isso pudesse prejudicar ainda mais os parentes. "Algumas vezes, conseguia visitá-los no presídio. Não era fácil na época, e muito menos passar despercebido sendo um jogador de futebol de um clube grande", revelou.

Diferentemente do pai e dos tios, Gaúcho manteve uma certa distância da política. Cabia a ele sustentar a família com o salário de jogador, enquanto os outros se dedicavam à lutar política.

Entretanto, a veia combativa da família Losada muitas vezes falou mais alto e ele chegou a ser presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol do Rio de Janeiro por dois anos. Vencendo as batalhas em campo, Gaúcho foi o suporte essencial para os parentes guerrilheiros. Segundo ele, essas experiências o ensinaram a ser destemido. Afinal, acredita que o medo não pode paralisar ninguém, mesmo sob o chumbo da ditadura.

(Por Vanessa Gonçalves)


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