Durante o regime militar, o futebol
funcionou como uma espécie de termômetro da aceitação do povo dos militares no
poder. Após se apoderarem da comissão técnica da seleção brasileira e,
posteriormente, do comando da antiga CBF no início da década de 1970, os
generais tentaram impor suas vontades pessoais nas decisões finais dos técnicos
que comandaram a equipe.
Oswaldo Brandão recebia telefonemas do chefe do SNI |
Em 1970, João Saldanha se negou a convocar Dadá Maravilha após sugestão de Médici e acabou sendo demitido. Zagallo, seu sucessor, aceitou a dica do general e levou o atacante para o Mundial do México.
Na preparação para a Copa da Argentina, em 1978, Oswaldo Brandão sofreu com "marcação forte" da imprensa carioca, que não aceitava o gaúcho radicado em São Paulo no comando da equipe, bem como do general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e futuro presidente do país.
Brandão tinha assumiu o comando da seleção em julho de 1975, substituindo Zagallo após a Copa de 74. Sua tarefa não era das mais fáceis: tinha como missão renovar a equipe. Em partes, o técnico conseguiu algum sucesso. Mesmo sem conquistar o título da Copa América em 75, abocanhou a Copa Roca, a Taça do Atlântico e o Torneio do Bicentenário da Independência dos Estados Unidos.
A derrocada começou antes do primeiro jogo nas eliminatórias da Copa, ainda em 1977, quando escalou o lateral Wladimir, do Corinthians, em vez de Marinho Chagas, do Botafogo. A imprensa do Rio de Janeiro criticou a decisão.
No entanto, havia mais um importante personagem pressionando Brandão. O preparador físico Hélio Maffia revelou, recentemente, que o técnico recebia diariamente telefonemas de Figueiredo para saber como estava a preparação da equipe. Para o chefe do SNI, as críticas dos veículos de imprensa revelava um possível empecilho aos planos dos militares de mais uma conquista nos gramados para reforçar seu poder no comando do país.
A pressão de todos os lados prejudicou Oswaldo Brandão, que viu a seleção perder um amistoso para o Cruzeiro por dois a zero e conseguir apenas um empate frente à Colômbia na estreia das eliminatórias da Copa de 1978.
No avião de volta ao Brasil, Brandão recebeu um recado para se apresentar no Rio de Janeiro ao diretor de seleções da CBD, André Richer. O técnico já sabia que tinha sido derrubado pelos militares. Figueiredo não concordava com seus métodos.
O capitão Cláudio Coutinho, que era assistente, assumiu o posto e ficou no comando da seleção na famosa conquista moral em 1978, ao ser eliminado da Copa sem perder.
(Por Vanessa Gonçalves)
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Para saber mais sobre o assunto, leia o livro "Oswaldo Brandão - Libertador corintiano, herói palmeirense", de Maurício Noriega.
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