Marin, presidente da CBF: futebol, política e passado ligado à ditadura (foto: Abr / Tânia Rêgo) |
Desde os primórdios como ponta-direita mediano do São Bento de Marília, Jabaquara e São Paulo Futebol Clube, pelo qual disputou dois jogos e marcou um único gol, comeu a sopa pela beirada. O técnico tricolor da época, Vicente Feola, sugeriu que deixasse de correr atrás da bola e fosse estudar. O aplicado Marin seguiu seu conselho.
Marin (segundo em pé) jogou no São Paulo, sem sucesso, nos anos 1950 (foto: reprodução) |
Formou-se em direito e entrou na política pela porta da direita, filiando-se ao Partido de Representação Popular, fundado pelo integralista Plínio Salgado. Elegeu-se vereador em 1963. Após o golpe de 1964, ingressou na Arena (Aliança Renovadora Nacional). Nos anos 1970 elegeu-se deputado estadual, na década que ficou marcada pela invasão de dirigentes do futebol na política. Todos alinhados à direita.
Fiel à vocação de escudeiro, embarcou na onda de discursos contra a suposta “comunização” da TV Cultura, puxada pelo deputado e ex-presidente do Corinthians Wadih Helu na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Pouco tempo depois, o jornalista Vladimir Herzog, que comandava o jornalismo da emissora pública do governo estadual, morreu no DOI Codi em consequência de torturas e montou-se a farsa de que teria se suicidado. Já por iniciativa própria, um ano depois usaria a tribuna da Assembleia paulista para discursar em defesa do delegado Sergio Paranhos Fleury, que chefiava a equipe de torturadores do Deops, a quem qualificou como incompreendido por não se fazer a “devida justiça a seu trabalho”.
Na política, seu maior feito foi colar na ascensão de Paulo Maluf, ex-prefeito biônico e último governador indireto de São Paulo nomeado pela ditadura. Graças a isso herdou a cadeira do Palácio dos Bandeirantes por dez meses, em 1982, completando o mandato malufista, que deixou o cargo para candidatar-se a deputado federal. Como governador, assinou a extinção do antigo Deops.
A trajetória política abriu caminho para Marin retornar ao futebol, agora não mais como coadjuvante. Foi presidente da Federação Paulista de Futebol de 1982 a 1988. Chefiou a delegação brasileira na Copa do México de 1986 e era o vice-presidente da Região Sudeste da CBF quando Ricardo Teixeira renunciou à presidência. Por ser o mais velho entre os cartolas, herdou o cargo. Ainda como vice, protagonizou o vexame de tentar explicar-se por ser flagrado pela TV embolsando uma das medalhas que deveria ser entregue a jogadores do Corinthians, campeão Copa São Paulo de Futebol Júnior. Disse que era um presente da Federação. Mas o jogador Mateus ficou sem sua medalha no ato de premiação.
Na convocação de Felipão dos 23 jogadores para a Copa no Brasil, sentou-se ao lado do treinador e falou mais do que é costume um cartola falar nessas situações.
Se o Brasil vencer o Mundial, entrará para a história oficial como o cartola vencedor do hexa. Na história que vale registro, será sempre aquele que usou as sombras para aparecer bem na foto. Mas não conseguirá apagar o passado ligado à ditadura.
(Por Milton Bellintani)
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