segunda-feira, 9 de junho de 2014

O dia em que Andrada voltou à marca do pênalti

O ex-goleiro Andrada virou agente do Exército argentino (foto: domínio público/El Gráfico)

O argentino Edgardo Norberto Andrada poderia ter entrado para a história apenas como o goleiro que sofreu o milésimo gol do Rei do Futebol, Pelé – em 19 de novembro de 1969, no Estádio do Maracanã – de pênalti. O suspense pela cobrança durou 15 segundos, tempo que Pelé levou para se concentrar, de costas para o gol, virar-se para o arco, dar quatro passos e fazer a célebre paradinha antes de finalizar de pé direito no canto esquerdo do arqueiro do Vasco da Gama: Santos 2 a 1 e jogo parado para celebrar o feito histórico do primeiro jogador a atingir a marca de 1.000 gols.

Ao ver a bola cruzar a linha do gol, Andrada esmurrou a grama, inconformado por se tornar coadjuvante daquele momento de festa para o futebol, independentemente da camisa que vestia o maior artilheiro de todos os tempos. O 10 de Pelé, mesmo estampado na camiseta do Santos, se tornou uma bandeira de todas as torcidas.


Mas a história reservaria um segundo tempo para Andrada, agora fora dos gramados. De volta à Argentina, o goleiro de temperamento explosivo encontrou no Destacamento de Inteligência 121 do Exército argentino em Rosário uma atividade paralela, e clandestina, à carreira ainda em andamento como número 1 do inexpressivo Colón.


A fachada de atleta em decadência serviu encobrir sua militância no aparato repressivo da ditadura de Jorge Rafael Videla. Ela só seria revelada com a denúncia de que participou do sequestro dos militantes peronistas Osvaldo Cambiaso y Eduardo Pereyra Rossi, em maio de 1983, por um grupo de vinte agentes. Os dois ativistas foram executados a tiros, depois de torturados.


A denúncia contra o ex-jogador, feita por um participante do grupo responsabilizado pelo crime, resultou na revista de sua casa, onde foi encontrado um arsenal composto de três pistolas – de 9, 11 e 25 milímetros – três fuzis Winchester e uma carabina, “entre outras armas de Guerra”, segundo reportagem do jornal argentino Página 12.


O processo foi arquivado por inconsistência de provas contra Andrada, em decisão judicial contestada por organizações de direitos humanos da Argentina.



(Por Milton Bellintani)

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