quarta-feira, 18 de junho de 2014

O acordo de Havelange e Videla

Muitos países eram contra a realização da Copa do Mundo na Argentina, em 1978. E não era sem motivos. As denúncias contra a ditadura de Jorge Videla assombravam o mundo pelos números de militantes de esquerda presos e desaparecidos.

João Havelange (segundo à esq.) ao lado de Jorge Videla na Copa de 1978

Na época, a Fifa já era dirigida por João Havelange e ficou indiferente ao clamor internacional. Uma intensa campanha de grupos de direitos humanos pressionou a entidade a não permitir a realização da Copa em um país nitidamente ditatorial.

Tratava-se do primeiro Mundial organizado pelo dirigente brasileiro, que acumulava cargo no Comitê Olímpico Internacional (COI) e havia deixado recentemente o comando da Confederação Brasileira de Desportos (CBD).
Com estreitas relações com o Fluminense, Havelange acabou exercendo um papel crucial para garantir a competição na Argentina a despeito das denúncias internacionais por vias políticas.

A embaixatriz Glorinha Paranaguá, após longas tentativas em libertar o filho e a nora, presos políticos na Argentina, acabou recorrendo ao cartola para tentar salvar a vida dos jovens. Filha de um dirigente do Fluminense, achava que a ligação do presidente da Fifa com o clube carioca poderia ser a luz no fim do túnel.

Em relato ao jornalista Lúcio de Castro, no documentário "Memórias do Chumbo", a ex-embaixatriz conta que Havelange procurou Videla e fez um acordo com o ditador argentino: se ele libertasse o casal brasileiro, garantiria a Copa no país.

E assim foi feito. O ditador soltou os militantes brasileiro e o Mundial ocorreu normalmente na Argentina. A poucos metros do principal estádio da Copa ficava um dos principais centros de tortura do país. Do cárcere, os presos políticos ouviam a torcida vibrando com os gols, enquanto ficavam livres das pancadas, choques e outros atos violências porque seus algozes acompanhavam os jogos.

Após a vitória da Argentina na final do Mundial, alguns presos políticos foram levados por seus algozes para as ruas para assistirem as festas do povo na rua. Ninguém imaginava que a vida daquelas pessoas corria risco e que Havelange havia garantido a continuidade do silêncio sobre aquela situação. A Copa continuava... E as torturas, mortes e desaparecimentos também.


(Por Vanessa Gonçalves)

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Para saber mais sobre o assunto, leia o livro "Jogo Duro - A história de João Havelange", de Ernesto Rodrigues, assista ao documentário "Memórias do Chumbo - Argentina", de Lúcio de Castro, e "Conversa com JH", de Ernesto Rodrigues.









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