A conquista do tricampeonato na Copa de 70, causou uma comoção ufanista no Brasil. Em razão disso, várias homenagens foram realizadas aos
‘heróis da nação’, mas somente uma delas causa polêmica ainda hoje.
Rivellino e Pelé ao lado de Paulo Maluf na entrega dos famigerados fuscas |
Paulo Maluf, então
prefeito de São Paulo, distribuiu vinte e cinco fuscas verdes aos
jogadores. Coqueluche automobilística da época, os valores atuais gastos
no "presente" chegariam a R$ 600 mil.
Quarenta anos depois, quase nada restou dos presentes.
Apenas o ex-lateral Zé Maria, reserva de Carlos Alberto Torres, conservou as peças
em outro fusca, um modelo 1967.
As peças do carro de "SuperZé" sobreviveram após um acidente em seu irmão
Tuta, ex-ponta da Ponte Preta e do Corinthians, capotou o veíxulo na
Rodovia Anhanguera. “Fiquei uma fera. O carro estava novinho e meu irmão
destruiu ele todo! Um mecânico de Limeira “transplantou” as peças para o Fusca
1967. Tô com ele até hoje, é opção para o rodízio. Não tem carro mais
econômico.”
Nem todos
os jogadores ficaram com o carro. Piazza, zagueiro improvisado na competição, ofereceu o seu como parte na compra de um posto de gasolina. Dadá Maravilha embolsou o valor do veículo em dinheiro em espécie. “Para que ficar com ele se eu tenho mais troféus do que glóbulos
vermelhos e brancos juntos?”, zombou na época. O capitão Carlos Alberto Torres
o manteve por cinco anos. “Eu não tinha como comprar um carro zero”, relembra.
A medida recebeu críticas de diversas entidades. No mesmo ano, o
advogado Virgílio Egydio Lopes Enei entrou com ação popular que exigia a
devolução do dinheiro aos cofres públicos. O Supremo Tribunal Federal acolheu o pedido.
No entanto, a história se estendeu até 2006, quando Maluf foi inocentado pelo STF sob
o argumento de que a Câmara de Vereadores da época havia permitido a doação.
O
ex-prefeito comemorou a setença com uma declaração singular: “Dei um fusquinha
para o Pelé, para o Rivellino, para o Tostão e até para o Leão. E o processado
fui eu, e não quem recebeu os carros”.
Esta foi uma das primeiras ações
judiciais contra Maluf, que já respondeu a outros 150 processos criminais, boa
parte por má gestão do dinheiro público.
“Eu era
jovem, não percebi, como perceberia depois, que era abuso de dinheiro público”,
diz Tostão. O assunto ainda incomoda outros jogadores. “Na época em que Maluf
deu os carros, ninguém questionou. Fizemos a alegria do país todo, depois
disseram que a gente não merecia”, afirma Carlos Alberto.
A questão é que independentemente do valor gasto, Paulo Maluf aproveitou-se da conquista do Tri para se fortalecer junto ao seu eleitorado na carona do sucesso de Pelé, Tostão e cia, tal qual seus aliados políticos do regime militar.
(Por Amanda Macedo)
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