quarta-feira, 25 de junho de 2014

Defensor e a resistência à ditadura no Uruguai

América do Sul sofreu uma onda repressiva na década de 1970. Brasil, Chile, Uruguai e Argentina foram tomados pelas ditaduras militares, que impuseram aos países o terror de Estado, marcado pelas torturas, mortes e desaparecimentos de opositores políticos.

Equipe do Defensor, campeã uruguaia de 1976

O Uruguai viu a liberdade cair por terra em 1973 e, como os vizinhos, acompanhou a tentativa de seus governantes em buscar no futebol uma forma de fazer propaganda dos mandos e desmandos dos militares.

Em meio a tudo isso, o Defensor Sporting Club conseguiu quebrar a hegemonia de quatro décadas de Nacional e Peñarol, considerados os clubes do regime, e consolidou-se como um símbolo na luta contra a ditadura.

Tudo isso aconteceu em 1976. A equipe de uniforme violeta era comandada por José Ricardo de León, com estreitas relações com a oposição à ditadura uruguaia. Por conta de suas posições políticas, o técnico já tinha sido afastado do comando da seleção celeste.

Mas, no pequeno clube uruguaio, isso pouco importava. Cabia a León criar um estilo de jogo que levasse o Defensor a disputar em pé de igualdade com os times da ditadura. Assim, o treinador privilegiou um estilo de jogo, baseado na pressão alta, na velocidade e na troca de passes, alicerçado na simbiose entre a agressividade, a técnica e a convicção.

O resultado foi épico. O estádio Luis Franzini, onde jogava o Defensor, tornou-se num espaço de liberdade e, respectivamente, numa referência na luta contra “os generais”. 

Suas arquibancadas ficavam repletas de adeptos, que compareciam ao espaço não apenas para assistir aos jogos, mas também para se manifestar politicamente. Em razão disso, muitos torcedores de outros clubes, inclusive de Peñarol e Nacional – passaram a frequentar o  estádio Luis Franzini.

Segundo o escritor Mario Benedetti, "nesse ano de 1976 o clube [Defensor] viveu um momento único, que se traduziu na revolta dos oprimidos contra os senhores, a que ninguém poderia ficar indiferente, nem mesmo um adepto nacionalista como eu. Todos vibrámos com a vitória dos “chicos”, Estava ali a prova que a ditadura não era uma entidade inabalável".

Para coroar este grito de liberdade, o Defensor conquistou o título nacional e, na comemoração, seus jogadores deram uma volta olímpica no sentido anti-horário, ou seja, começando pela esquerda. Embora este tenha sido considerado um ato ‘’normal’’ por muitos, na verdade era uma expressão de liberdade.

Apesar da ditadura, havia resistência...mesmo que nos campos de futebol.

(Por Vanessa Gonçalves) 


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