"Essa minha passagem de jogador profissional é interessante para mostrar que o
exilado se virava"
O historiador, professor e escritor
Joel Rufino dos Santos foi um dos intelectuais que precisou se exilar assim que
os militares deram o golpe no Brasil em 1964. Nesse período, precisou arrumar
uma forma de sobreviver na Bolívia, primeira parada do exílio de um ano e meio.
A solução: jogar futebol.
Joel Rufino dos Santos |
Com a ajuda de outro brasileiro,
Rufino chegou ao Bolívar, importante equipe profissional de La Paz, atuou como
jogador durante três meses. O clube pagava o hotel e garantia um ordenado para
que pudesse se sustentar nesses tempos difíceis.
No depoimento para o documentário da exposição "Política
F. C. - o futebol na ditadura", que pode ser assistido na mostra, ele conta
suas peripécias no gramado e a visita de João Saldanha.
"Em 1964, eu
fui exilado para Bolívia e Chile. Imediatamente ao golpe eu me exilei. Bom,
quem estava no exílio e era pobre se virava. Quem tinha grana, recebia grana do
Brasil, dos parentes. Eu, como alguns outros, me virei. Por exemplo,
[Gianfrancesco] Guarnieri e Juca [de Oliveira] saíam toda manhã com uma mala
para vender roupa usada. Faziam camelagem. E eu saía para o treino do
Bolívar.
O técnico
era também um brasileiro exilado, Vinícius Ruas, então ele me deu meu um lugar
no time. Eu fiquei à espera de um contrato por três meses, enquanto isso eles
pagavam meu hotel, me davam lá uns 50 dólares por semana e o contrato não saiu
porque fui embora para o Chile.
Essa minha passagem de jogador profissional é interessante para mostrar que o
exilado se virava, do jeito que fosse. Eu sabia mais como jogar bola do que
jogava propriamente. Tem uma sutileza.
Eu estava
nesse Bolívar e o Botafogo foi jogar em La Paz e o [João] Saldanha quis saber
como jogava o time do Bolívar, quem jogava etc. E alguém informou para ele:
"–Ah, tem um neguinho lá que se ele for escalado ele organiza o
time". E ele disse: " – Quem é esse neguinho?". Responderam:
"– É o Joel Rufino". Aí ele disse: "– Ah, Joelzinho? Joelzinho é
do nosso partido. Aquilo não vai dar trabalho nenhum!"".
(Por Vanessa Gonçalves)
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