terça-feira, 17 de junho de 2014

Maluf e os fuscas aos tricampeões


A conquista do tricampeonato na Copa de 70, causou uma comoção ufanista no Brasil. Em razão disso, várias homenagens foram realizadas aos ‘heróis da nação’, mas somente uma delas causa polêmica ainda hoje.

Rivellino e Pelé ao lado de Paulo Maluf na entrega dos famigerados fuscas

Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, distribuiu vinte e cinco fuscas verdes aos jogadores. Coqueluche automobilística da época, os valores atuais gastos no "presente" chegariam a R$ 600 mil. 

Quarenta anos depois, quase nada restou dos presentes. Apenas o ex-lateral Zé Maria, reserva de Carlos Alberto Torres, conservou as peças em outro fusca, um modelo 1967. 

As peças do carro de "SuperZé" sobreviveram após um acidente em seu irmão Tuta, ex-ponta da Ponte Preta e do Corinthians, capotou o veíxulo na Rodovia Anhanguera. “Fiquei uma fera. O carro estava novinho e meu irmão destruiu ele todo! Um mecânico de Limeira “transplantou” as peças para o Fusca 1967. Tô com ele até hoje, é opção para o rodízio. Não tem carro mais econômico.”

Nem todos os jogadores ficaram com o carro. Piazza, zagueiro improvisado na competição, ofereceu o seu como parte na compra de um posto de gasolina. Dadá Maravilha embolsou o valor do veículo em dinheiro em espécie. “Para que ficar com ele se eu tenho mais troféus do que glóbulos vermelhos e brancos juntos?”, zombou na época. O capitão Carlos Alberto Torres o manteve por cinco anos. “Eu não tinha como comprar um carro zero”, relembra.

A medida recebeu críticas de diversas entidades. No mesmo ano, o advogado Virgílio Egydio Lopes Enei entrou com ação popular que exigia a devolução do dinheiro aos cofres públicos. O Supremo Tribunal Federal acolheu o pedido. 

No entanto, a história se estendeu até 2006, quando Maluf foi inocentado pelo STF sob o argumento de que a Câmara de Vereadores da época havia permitido a doação.

O ex-prefeito comemorou a setença com uma declaração singular: “Dei um fusquinha para o Pelé, para o Rivellino, para o Tostão e até para o Leão. E o processado fui eu, e não quem recebeu os carros”. 

Esta foi uma das primeiras ações judiciais contra Maluf, que já respondeu a outros 150 processos criminais, boa parte por má gestão do dinheiro público. 

“Eu era jovem, não percebi, como perceberia depois, que era abuso de dinheiro público”, diz Tostão. O assunto ainda incomoda outros jogadores. “Na época em que Maluf deu os carros, ninguém questionou. Fizemos a alegria do país todo, depois disseram que a gente não merecia”, afirma Carlos Alberto.

 A questão é que independentemente do valor gasto, Paulo Maluf aproveitou-se da conquista do Tri para se fortalecer junto ao seu eleitorado na carona do sucesso de Pelé, Tostão e cia, tal qual seus aliados políticos do regime militar.


(Por Amanda Macedo)


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sábado, 14 de junho de 2014

Apartheid: o vilão do futebol na África do Sul


A Federação Internacional de Futebol (Fifa) é tão importante quanto a Organização das Nações Unidas (ONU) nas questões políticas mundo afora. Não é à toa que a entidade de futebol tem mais membros que a outra.

Mandela comemora Copa na África do Sul, em 2010

Isso ocorre porque a Fifa – por interesses políticos – reconhece a independência de alguns territórios que, geralmente, são aceitos posteriormente pela ONU.

Por vezes, esse papel político da entidade máxima do futebol funcionou como um bom exemplo de repúdio às políticas segregatórias de algumas nações. Um dos exemplos mais importantes deste contexto foi a suspensão da seleção da África do Sul após a implantação do regime de segregação racial, conhecido apartheid.
                   
A política antirracista da Fifa, reforçada a partir de 1961, garantiu a suspensão da África do Sul de competições internacionais. Afinal, o país enfrentava um momento delicado com o banimento do Congresso Nacional Africano (CNA) e a morte de 69 negros durante um protesto em Sharperville, no ano anterior.
 
O estudante Hector Peterson, assassinado aos 13 anos, virou símbolo da luta contra apartheid
                   
Em 1962, as Nações Unidas também condenaram o apartheid e pediram aos países-membros que cortassem relações diplomáticas com a África do Sul. Dois anos depois, o principal líder político do movimento, Nelson Mandela,  foi condenado à prisão perpétua, ficando preso por 27 anos e só deixando a cadeia com o fim do regime segregacionista e tornando-se o primeiro presidente negro do país.

Apesar das sanções, a seleção sul-africana só foi excluída oficialmente dos quadros da Fifa em 1976, após o massacre aos estudantes de Soweto, que se manifestavam contra a obrigatoriedade de estudar a língua dos brancos – o afrikâner. Reprimido pela polícia, o movimento resultou em 100 mortes em todo o país.
                   
Somente com do fim do apartheid, em 1991, e a adoção de uma seleção multicultural, o país foi reintegrado à entidade, reestreando em partidas oficiais em 1992.

A força dos sul-africanos nos gramados ficou comprovada quando a equipe venceu, quatro anos depois, a Copa Africana das Nações.
                   
No entanto, a maior vitória contra o racismo ocorreu quando a África do Sul sediou o Mundial, tendo Nelson Mandela como personalidade ovacionada pelo público no evento final. Como ninguém, o líder soube como usar o poder do esporte para reforçar a união de seu povo.
                   
Assista ao vídeo:




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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Brandão e os telefonemas secretos do SNI

Durante o regime militar, o futebol funcionou como uma espécie de termômetro da aceitação do povo dos militares no poder. Após se apoderarem da comissão técnica da seleção brasileira e, posteriormente, do comando da antiga CBF no início da década de 1970,  os generais tentaram impor suas vontades pessoais nas decisões finais dos técnicos que comandaram a equipe.

Oswaldo Brandão recebia telefonemas do chefe do SNI
 
Em 1970, João Saldanha se negou a convocar Dadá Maravilha após sugestão de Médici e acabou sendo demitido. Zagallo, seu sucessor, aceitou a dica do general e levou o atacante para o Mundial do México.

Na preparação para a Copa da Argentina, em 1978, Oswaldo Brandão sofreu com "marcação forte" da imprensa carioca, que não aceitava o gaúcho radicado em São Paulo no comando da equipe, bem como do general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e futuro presidente do país.

Brandão tinha assumiu o comando da seleção em julho de 1975, substituindo Zagallo após a Copa de 74. Sua tarefa não era das mais fáceis: tinha como missão renovar a equipe. Em partes, o técnico conseguiu algum sucesso. Mesmo sem conquistar o título da Copa América em 75, abocanhou a Copa Roca, a Taça do Atlântico e o Torneio do Bicentenário da Independência dos Estados Unidos.

A derrocada começou antes do primeiro jogo nas eliminatórias da Copa, ainda em 1977, quando escalou o lateral Wladimir, do Corinthians, em vez de Marinho Chagas, do Botafogo. A imprensa do Rio de Janeiro criticou a decisão.

No entanto, havia mais um importante personagem pressionando Brandão. O preparador físico Hélio Maffia revelou, recentemente, que o técnico recebia diariamente telefonemas de Figueiredo para saber como estava a preparação da equipe. Para o chefe do SNI, as críticas dos veículos de imprensa revelava um possível empecilho aos planos dos militares de mais uma conquista nos gramados para reforçar seu poder no comando do país.


A pressão de todos os lados prejudicou Oswaldo Brandão, que viu a seleção perder um amistoso para o Cruzeiro por dois a zero e conseguir apenas um empate frente à Colômbia na estreia das eliminatórias da Copa de 1978.

No avião de volta ao Brasil, Brandão recebeu um recado para se apresentar no Rio de Janeiro ao diretor de seleções da CBD, André Richer. O técnico já sabia que tinha sido derrubado pelos militares. Figueiredo não concordava com seus métodos.

O capitão Cláudio Coutinho, que era assistente, assumiu o posto e ficou no comando da seleção na famosa conquista moral em 1978, ao ser eliminado da Copa sem perder. 


(Por Vanessa Gonçalves)

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Para saber mais sobre o assunto, leia o livro "Oswaldo Brandão - Libertador corintiano, herói palmeirense", de Maurício Noriega.


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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Irã, Iraque e o futebol


A ideia de Oriente compõe-se por inúmeras visões, grande parte delas ligadas à intolerância, guerra e terrorismo; e, claro, certo grau de exotismo. Infelizmente, é essa a imagem que se consolida no imaginário do Ocidente.

Jogadores de Irã e Estados Unidos iniciam paz nos gramados

No entanto, a própria dicotomia entre as regiões é uma postulação histórica com outros intuitos, como aponta Edward Said. "Vê-se no Oriente o outro, o diferente, o que serve como justificativa para controversas ações". 

Quando falamos em Oriente muitas imagens vêm à mente, mas é quase certo que o futebol não é uma delas. No entanto, este esporte é um elemento importante na dinâmica interna e externa dos países conhecidos como árabes.  

E, por incrível que pareça, episódios marcantes nas relações externas entre esses países tiveram o futebol como  protagonista.

O Irã foi o primeiro país do Oriente Médio a conseguir classificação para uma Copa do Mundo. Em 1978, seu melhor resultado foi um empate de 1x1 com a Escócia. 

No entanto, após a chegada ao poder do Aiatolá Khomeini, o futebol iraniano enfrentou uma série de restrições internas e externas. 

Internamente, a Revolução Islâmica alterou a dinâmica da sociedade, fazendo com que os clubes tivessem nomes modificados de acordo com a perspectiva e interesse do regime. Externamente, após o início da guerra com o Iraque – este aliado, até então, dos Estados Unidos – ambos os países sofreram sanções e ficaram sem participar de competições internacionais. 

Após o fim da guerra e a volta às competições internacionais, os países envolvidos nos conflitos ainda sentiam os resquícios e implicações causadas pela guerra. As eliminatórias e a Copa de 1998 na França colocariam os antigos adversários frente à frente. 

Enquanto comemoravam a desclassificação do Iraque, que não passou da primeira fase das eliminatórias, – gerando um grande mal-estar depois que Uday, filho de Saddam Hussein,  chefe do comitê olímpico nacional, ameaçou os jogadores – o Irã disputou a repescagem contra a Austrália, e depois de estar perdendo de 2 a 0, conseguiu o empate, garantindo seu lugar na Copa da França.

Entretanto, foi durante a Copa de 1998 que ocorreu o embate mais simbólico. Irã e Estados Unidos foram sorteados para o mesmo grupo. O relacionamento entre os países continuava tenso, mesmo após a guerra, tanto que, por muito tempo, o Irã seria considerado um estado “inimigo” dos EUA.

A prévia do jogo foi notícia em todo o mundo e o possível comportamento dos atletas em campo foi alvo de discussões acaloradas. Mas, para surpresa geral, os chefes de Estado de ambos os países afirmaram que o futebol poderia ser o primeiro passo para o restabelecimento de uma ligacão amigável, funcionando como um "jogo da paz".

Em campo, o que se viu foi uma afável relação entre as delegações, que promoveram um espetáculo marcado pela cordialidade.  O resultado foi favorável ao time iraniano, que venceu a partida por 2 a 1. A imprensa iraniana valorizou enormemente a vitória, colocando-a como um desígnio quase divino. 

Se o jogo não marcou a paz entre Irã e EUA, mostrou que o futebol permite, em certa medida, o estabelecimento de relações em que não imperam a violência ou a intolerância, em que o teórico inimigo seja, novamente, humanizado.   

 (Por Thiago Kater)

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Assista aos gols da partida histórica entre Irã e Estados Unidos na Copa da França, em 1998.



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segunda-feira, 9 de junho de 2014

O dia em que Andrada voltou à marca do pênalti

O ex-goleiro Andrada virou agente do Exército argentino (foto: domínio público/El Gráfico)

O argentino Edgardo Norberto Andrada poderia ter entrado para a história apenas como o goleiro que sofreu o milésimo gol do Rei do Futebol, Pelé – em 19 de novembro de 1969, no Estádio do Maracanã – de pênalti. O suspense pela cobrança durou 15 segundos, tempo que Pelé levou para se concentrar, de costas para o gol, virar-se para o arco, dar quatro passos e fazer a célebre paradinha antes de finalizar de pé direito no canto esquerdo do arqueiro do Vasco da Gama: Santos 2 a 1 e jogo parado para celebrar o feito histórico do primeiro jogador a atingir a marca de 1.000 gols.

Ao ver a bola cruzar a linha do gol, Andrada esmurrou a grama, inconformado por se tornar coadjuvante daquele momento de festa para o futebol, independentemente da camisa que vestia o maior artilheiro de todos os tempos. O 10 de Pelé, mesmo estampado na camiseta do Santos, se tornou uma bandeira de todas as torcidas.


Mas a história reservaria um segundo tempo para Andrada, agora fora dos gramados. De volta à Argentina, o goleiro de temperamento explosivo encontrou no Destacamento de Inteligência 121 do Exército argentino em Rosário uma atividade paralela, e clandestina, à carreira ainda em andamento como número 1 do inexpressivo Colón.


A fachada de atleta em decadência serviu encobrir sua militância no aparato repressivo da ditadura de Jorge Rafael Videla. Ela só seria revelada com a denúncia de que participou do sequestro dos militantes peronistas Osvaldo Cambiaso y Eduardo Pereyra Rossi, em maio de 1983, por um grupo de vinte agentes. Os dois ativistas foram executados a tiros, depois de torturados.


A denúncia contra o ex-jogador, feita por um participante do grupo responsabilizado pelo crime, resultou na revista de sua casa, onde foi encontrado um arsenal composto de três pistolas – de 9, 11 e 25 milímetros – três fuzis Winchester e uma carabina, “entre outras armas de Guerra”, segundo reportagem do jornal argentino Página 12.


O processo foi arquivado por inconsistência de provas contra Andrada, em decisão judicial contestada por organizações de direitos humanos da Argentina.



(Por Milton Bellintani)

domingo, 8 de junho de 2014

Onde Arena vai mal... um time no nacional


O Campeonato Brasileiro foi criado em 1971, durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici, que ficou no poder de 1969 a 1974. 

Por sua identificação com o futebol, Médici entrou para a história como o presidente que mais soube utilizar o esporte para promover seu governo e fortalecer o regime.

 
Médici na tribuna do Maracanã, com o general Figueiredo (de óculos escuros)

O uso do futebol em seu mandato foi determinante para a criação de um campeonato nacional. Médici, assim como fez com a seleção em 1970, militarizou a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) – precursora da CBF –, colocando o almirante Heleno Nunes como presidente da entidade, deixando sob sua confiança a utilização do Brasileirão para fins políticos.

Justificada por um discurso de integração nacional, a criação do torneio tinha como intuito o partido do governo  – ARENA – buscar votos nas regiões em que estava perdendo espaço para o MDB, da oposição.

Havia uma espécie de troca de favores. Os votos em regiões estratégicas eram trocados pela participação de um novo time no campeonato nacional. O uso do futebol era tamanho que 94 equipes participaram do campeonato nacional de 1979. É neste período que nasce o bordão “Onde a Arena vai mal, mais um time no nacional”.

A Arena tentava contentar seus aliados incluindo clubes de todas as regiões do Brasil. Heleno Nunes era o interlocutor dos militares na CBD, não se rogando a "inchar" o Campeonato Nacional de clubes.

Em seu segundo ano à frente da entidade, o almirante incluiu 12 novas equipes no torneio, que contou com 54 clubes na disputa de 1976. Em 77, mais oito times foram convidados. No ano seguinte, marcado pelas eleições, a lista de clubes aumentou para 74, com 11 estreantes. Em 79, o Brasileirão teria 94 times, sendo 23 estreantes.

O aumento do número participantes também privilegiou os grandes times. Afinal, o cruzamento com equipes de menor expressão dificultava a ocorrência de clássicos, permitindo que um clube chegasse à final ou ao título sem enfrentar fortes adversários.

Por exemplo, na edição de 1977, que reuniu 62 clubes, o campeonato foi vencido pelo São Paulo que, durante toda a a campanha, enfrentou apenas cinco times de tradição (Palmeiras, Corinthians, Internacional, Grêmio e Atlético-MG). Em 80, o Flamengo enfrentou apenas quatro grandes (Internacional, Santos, Atlético-MG e Palmeiras), enquanto em 81, o campeão Grêmio enfrentou apenas três pedreiras (Corinthians, Botafogo e São Paulo).

Para entender melhor essa dinâmica, vale lembrar que esse crescimento acompanhava a necessidade de buscar mais votos pelo Brasil no período da transição “lenta e gradual” para a democracia. A ideia da ARENA era controlar essa abertura através do futebol, evitando que o MDB ganhasse a simpatia dos brasileiros.

Quando o Campeonato Nacional foi criado, em 1971, contava com quatro times do Nordeste, três do Sul e 13 do Sudeste, excluindo as regiões Norte e Centro-Oeste. Por coincidência, as regiões Sul e Sudeste, com 16 dos 20 clubes do torneio, representavam a maioria dos votos do MDB, sendo responsáveis por 71,3%, 77,1% e 77,3% dos votos do partido nas eleições de 1966, 1970 e 1978, respectivamente.

Nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste a representatividade do MDB era bem menor. Insatisfeitos, os políticos da ARENA não gostaram dessa "ausência" no Brasileirão e, com apoio do governador de Goiás, foi criado um campeonato à parte, com os excluídos da CBD.

Para consertar a situação, no ano seguinte, a entidade incluiu seis times dessas regiões no campeonato, duplicando a participação do Nordeste (4 equipes), com mais dois times do Norte, um do Amazonas e um do Pará. 

A cada ano, o número de clubes das regiões dominadas pela ARENA foi aumentando, chegando a contar com 30 clubes do Nordeste em 1979. Um exemplo típico desse uso político foi a inclusão do Itabuna da Bahia no brasileirão de 78. O time era bancado por produtores de cacau, apoiados pelo governo do estado, que era do partido governista.

É interessante ressaltar que durante este período muitas pessoas ligadas ao futebol participaram das eleições, utilizando a popularidade conferida pelo esporte. A ARENA colocou como governador em São Paulo Laudo Natel, ex-presidente do São Paulo. O partido ainda contou como representantes nas eleições: o ex-presidente do Corinthians, Wadi Helu; o presidente da Portuguesa, Oswaldo Teixeira; o ex-presidente do Santos, Atiê Jorge Curi; Francisco Trindade, presidente do Bahia, e o ex vice-presidente do Grêmio, Sérgio Ilha Moreira.

O MDB também se aproveitou da situação, contando com candidatos como: Djalma Campos, ídolo do Sampaio Correia e eleito vereador de São Luís (MA); Wilson Piazza, volante campeão do Mundo com a seleção em 1970, eleito vereador em Belo Horizonte (MG); Ademar de Barros, ex-presidente do América-MG tentou vaga no Congresso; e o presidente da Federação Paulista, João Mendonça Falcão, que foi eleito deputado estadual.

A utilização do esporte como meio político foi clara nesses primeiros anos do Campeonato Brasileiro. O torneio serviu como importante forma de aproximação entre políticos e as populações regionais. A criação do Brasileirão tinha como mote mais vontade política do que a futebolística, confundindo-se com a politicagem dos anos de chumbo.

(por Thomaz Lemmi)

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sexta-feira, 6 de junho de 2014

A luta clandestina de Gaúcho

Pouca gente sabe, mas o ex-meia e técnico Carlos Roberto Orrigo da Cunha, o Gaúcho, tem uma ligação com o passado da ditadura no Brasil. Em 1964, quando tinha apenas 11 anos, seu pai, Augusto Losada, foi preso político por fazer parte de um grupo sindicalista chamado União Operária.

Gaúcho visitava os familiares presos por motivos políticos

Além disso, dois de seus tios – Antônio e José – se engajaram na lutar armada e foram companheiros da presidente Dilma Rousseff na Varguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) durante os anos de chumbo.

A família Losada herdou dos ancestrais espanhóis a tradição no envolvimento com a política. Em entrevista ao O Globo, Gaúcho declarou: “Somos uma família de proletários que gostam de futebol".

Em 1970, auge da repressão militar, Carlos Roberto tinha apenas 14 anos e precisou se dividir entre os treinos na base do Grêmio e o trabalho como tecelão. Todos os homens da família estavam presos devido ao envolvimento com a luta contra a ditadura e ele precisava ajudar em casa.

No ano seguinte, com a carreira de jogador deslanchando, Gaúcho se transferiu para o Vasco da Gama. Durante o período em que esteve no clube carioca, não deixou de visitar os parentes no presídio. Mas, para evitar maiores problemas, organizava uma verdadeira "operação de guerra" para que ninguém soubesse dessa ligação da família com a luta política, temendo que ao atuar por um clube grande isso pudesse prejudicar ainda mais os parentes. "Algumas vezes, conseguia visitá-los no presídio. Não era fácil na época, e muito menos passar despercebido sendo um jogador de futebol de um clube grande", revelou.

Diferentemente do pai e dos tios, Gaúcho manteve uma certa distância da política. Cabia a ele sustentar a família com o salário de jogador, enquanto os outros se dedicavam à lutar política.

Entretanto, a veia combativa da família Losada muitas vezes falou mais alto e ele chegou a ser presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol do Rio de Janeiro por dois anos. Vencendo as batalhas em campo, Gaúcho foi o suporte essencial para os parentes guerrilheiros. Segundo ele, essas experiências o ensinaram a ser destemido. Afinal, acredita que o medo não pode paralisar ninguém, mesmo sob o chumbo da ditadura.

(Por Vanessa Gonçalves)


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